Apesar de gargalos logísticos, agronegócio prospera


Reconhecido como "Celeiro do Brasil", o Centro-Oeste está confirmando, uma a uma, todas as suas melhores vocações. Nos últimos 20 anos, a partir da base econômica do agronegócio, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás alcançaram taxas médias de crescimento anual sempre em torno de 4,5%. É dali que se extraem 56% do algodão produzido no Brasil, 44% da soja, 27% do milho, 14% da cana-de-açúcar e 14% da carne.
É um feito e tanto, especialmente levando-se em consideração que a região tem pouco mais de 10% da área total do País. "O desempenho da economia do Centro-Oeste é absolutamente extraordinário", afirmou o ex-ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, durante exposição no Fóruns Estadão Regiões: Centro-Oeste. "Uma conquista alcançada basicamente pelo agronegócio por meio do incremento da produtividade sem ampliação da área cultivada."
Segundo o ex-ministro, o crescimento se deu apesar dos gravíssimos problemas de infraestrutura para escoar a safra para os principais mercados consumidores. Durante sua exposição, Stephanes lembrou que a saída para o Norte está virtualmente fechada por causa das reservas ambientais e indígenas.
Contudo, apesar da falta de investimentos do setor público, o agronegócio prospera. Mato Grosso puxou a fila regional do desenvolvimento e conquistou o título de maior gerador de empregos formais do País. O superávit comercial do Estado foi de US$ 7,7 bilhões no ano passado, um volume de recursos que representou 18% de todo o saldo comercial obtido pelo Brasil. Enquanto ajuda o País a recolher divisas, um agressivo programa de parcerias público-privadas está conseguindo resultados que vão mudando, para melhor, o mapa das estradas locais.
Desde 2002, o Estado ganhou nada menos que 2,6 mil quilômetros de estradas pavimentadas, cujos traçados foram elaborados em conjunto entre a administração pública e os produtores rurais. "Metade dos custos das estradas foi arcado pelo Estado e outra metade ficou por conta das associações entre os agentes do agronegócio", explicou o secretário de Indústria e Comércio de Mato Grosso, Pedro Nadaf. "Sem entraves burocráticos, estamos buscando a logística necessária para crescermos consistentemente até 2020."
No todo, a Região Centro-Oeste avança pelo rumo certo da produtividade agrícola. A produção regional de grãos em 2009 foi de 47,7 milhões de toneladas. Essa marca a torna responsável por 36,7% do total da produção nacional. O resultado se explica pelo alto grau de mecanização das lavouras e de implementação de tecnologias para o aumento da produtividade. Além disso, o perfil médio da propriedade rural no Centro-Oeste é de grande extensão, superior a 100 mil hectares. "A ótima qualidade da terra e do clima se combinam a preços convidativos para as propriedades, muito mais aceitáveis do que os praticados nas Regiões Sul e Sudeste", destacou a senadora Kátia Abreu (DEM/TO).
A chegada de novas empresas à região também é um estímulo aos produtores rurais. Um exemplo é a ETH, braço do Grupo Odebrecht para a produção de bioenergia da cana-de-açúcar.
Valor agregado
A secretária de Desenvolvimento da Agricultura de Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina Correa da Costa, frisou que a região tradicionalmente ocupa os primeiros lugares nos rankings de produtividade de várias culturas agrícolas. "Esses títulos nós já temos, mas é chegado o momento de agregarmos valor à nossa produção."
Ela defendeu a verticalização industrial da produção da região. "A tendência é a de que grandes empresas se instalem em nossos Estados para promover o beneficiamento dos grãos. Esse movimento irá concretizar muitas das nossas potencialidades", ponderou. A recente presença de unidades de negócios de multinacionais como a Cargill, Dreyfus e Bunge na região foi citada como exemplo da atenção mundial para as qualidades do Centro-Oeste brasileiro.
O ex-ministro da Agricultura Alysson Paulinelli explicou em sua intervenção o estímulo que procurou dar, ainda nos anos de 1970, quando foi ministro do governo Geisel, para que as vocações agrícolas da região aflorassem. "Com o Sul e o Sudeste bastante povoados, procuramos apoiar a ocupação do Centro-Oeste por meio de incentivos em créditos e apoio tecnológico por meio da Embrapa", afirmou. "Em uma palavra, fiz um movimento para organizar a ocupação da terras pelos produtores rurais. A julgar pelos resultados que vimos aqui, a contribuição foi válida."

Fonte: NTC & Logística e Jornal O Estado de São Paulo

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