Dificuldade que supõe o processo de transição de uma empresa de transportes para uma organização dedicada à realização de operações logísticas

Neste artigo, Roberto Lacerda Oliva, Diretor Geral das empresas, Press Log e Soma Log, ambas dedicadas aos segmentos de consultoria empresarial para os segmentos de Logística e de Transportes, aborda a grande dificuldade que supõe o processo de transição de uma empresa de transportes para uma organização dedicada à realização de operações logísticas

Como empresários devemos ter cuidado para não transformar nossas empresas de transportes bem sucedida em organizações prestadoras de serviços de operações logísticas mal sucedidas.

Apesar que a febre pouco a pouco vai passando, ainda nos encontramos com alguma incidência de organizações que tem a enorme tentação de criar no seio de suas empresas de transportes bem sucedidas, uma organização dedicada à prestação de serviços logísticos.

Este fenômeno, iniciado nos Estados Unidos e estendido por todo o mundo, teve o seu auge na década de 90 quando grandes e tradicionais empresas do segmento dos transportes, atraídas pela facilidade de aumentar a captação de recursos nas bolsas de valores, materializaram a compra de operadores logísticos tradicionais, engordando o volume de faturamento de suas corporações.

O processo também partia da premissa de que, dispondo de uma organização coligada ou anexa à nossa tradicional empresa de Transportes e realizando as tradicionais operações de armazenamento temporal e gestão de atividades logísticas realizadas no armazém, de maneira automática e inercial, aumentaríamos a fidelidade dos clientes em relação à frequência com que confiam os seus serviços às nossas empresas, flexibilizaríamos nossos custos operativos e obteríamos melhores margens de gestão do negócio.

Existem alguns casos que foram relativamente bem sucedidos e centenas de casos em que o empresário conseguiu criar uma organização logística medíocre, sem personalidade empresarial e sem definição de um claro nicho comercial. 

O fenômeno atingiu inclusive a poderosas organizações internacionais do segmento de transportes que em função de planos mal sucedidos em sua atuação como operadores logísticos, venderam tais divisões para voltar a concentraras suas atividades empresariais no segmento que controlam.

Porém, a febre mundial pela realização de operações de OUTSOURCING continuava imparável chegando na Europa e estendendo-se rapidamente para todo o mundo; no Brasil por exemplo; salvo exceções, o processo avançava de maneira relativamente rápida.

Ao nome original de nossa organização de transportes, por exemplo, ABCDEF TRANSPORTES, incluiremos uma nova expressão, passando a denominar-nos como ABCDEF LOGISTICA e TRANSPORTES ou ainda ABCDEF LOGISTICS pensando que desta forma o mercado reconheceria a amplitude de nosso leque de serviços”.

Porém, ao iniciar as atividades em um mundo totalmente distinto, o empresário topará com surpresas no caminho que muitas vezes não integravam o plano de negócios.

Em primeiro lugar, o tempo médio de resposta para que um cliente comece confiar a realização de operações de OUTSOURCING de operações logísticas e de serviços de valor agregado realizados no armazém é, infinitamente superior ao tempo médio em que encontramos respostas de um cliente para iniciar operações de transporte e distribuição com a nossa organização original. 

Existem estudos de diversos órgãos dedicados à realização de estatísticas que indicam que uma operação de OUTSOURCING LOGÍSTICO tem um tempo médio de maduração superior aos 10 meses.

Portanto, surge um primeiro e grande dilema quando administramos uma organização logística que é a simples decisão de dispor primeiro do espaço em armazéns logísticos para disponibilizar tais espaços para os clientes ou, primeiro firmar o contrato com o cliente para posteriormente dispor do espaço do armazém logístico necessário...

Conheço muitos operadores logísticos que perderam e perdem centenas de milhares de Reais ao dispor de espaços de armazéns não correspondidos com as atividades operacionais que o mesmo está preparado para realizar. A questão é bastante complexa uma vez que os alugueis para ocupar um armazém ou dispor de uma localização privilegiada em um condomínio logístico, normalmente se firmam para um período de médio e largos prazos, com aplicação de importantes multas pelo não cumprimento dos contratos firmados.

Do outro lado da moeda, também conheço operadores que dispondo de boa relação empresarial com o cliente, não contavam com a disponibilidade do espaço adaptado para realizar as operações de armazém no momento em que as mesmas foram requeridas.

Outra questão que nos deparamos, quando apostamos pelo início de atividades no segmento das operações logísticas é a personalização operativa que temos que oferecer para cada cliente.

Normalmente, a partir de sistemas informáticos básicos; os denominados SISTEMAS DE GERENCIAMENTO DE ARMAZEM (Conhecidos em sua terminologia anglo sazona como WAREHOUSE MANAGEMENT SYSTEN), devemos realizar parametrizações e adaptações no sistema básico, para atender às exigências peculiares de cada cliente.

Essas operações demandam tempo, pessoal especializado e recursos financeiros e estão sumamente interligadas com a complexidade de cada operação logística.

O resumo destas e de outras questões na mesma linha deveria levar o empresário do setor de transportes a meditar bastante sobre a conveniência de iniciar operações como operador logístico. Como reflexão inicial deve considerar que a materialização de tais processos é uma realidade de médio e de largos prazos.

Não quero em absoluto desanimar aos empresários; simplesmente me permito realizar algumas reflexões pois tive ocasião de conviver com estas circunstancias estando ao mando de várias organizações, tanto no Brasil, como na Europa.

O início de prestação de serviços como operador logístico deve, necessariamente, ser precedido de um plano empresarial no qual, a análise do tempo de resposta do mercado em confiar em nossa organização deve ocupar um lugar relevante.

Quando analisamos o perfil dos 20 maiores operadores logísticos mundiais, veremos que uma parte significativa dos mesmos, realiza um grande número de terceirização das atividades de transportes. Esta reflexão é muito importante pois contempla uma eleição pela especialização. Logicamente, a recíproca é verdadeira em muitos casos.

Já dizia o prestigioso autor americano, Peter Drucker, que chegaria o momento em que o empresário deveria apostar em fazer tudo de tudo ou optar por fazer um pouco de nada... Tudo, no caso que nos ocupa, significa todo o universo de possibilidades de negócios que podemos realizar no complexo mundo da logística materializada. Nada, significa escolher uma parcela específica da atividade, concentrando na mesma nossa atenção e especialidade.

Em muitas ocasiões é melhor seguir especializando os serviços dados por nossas tradicionais empresas de transportes, utilizando a inovação como forma de modernização, que adentrar em um universo extremamente complexo e desconhecido, com o enorme risco de obter como resposta a falta da consecução dos nossos objetivos empresariais e o pior de tudo, comprometer um negócio bem sucedido...

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