Os motivos pelos quais fracassam algumas operações de Fusões e Aquisições de empresas de Logística e de Transportes

Roberto Lacerda Oliva, é o Diretor Geral da empresa SOMA LOG, www.somalog.com. A pedido do blog INFOLOGIS Roberto preparou o presente artigo no qual aborda os motivos pelos quais fracassam algumas operações de Fusões e Aquisições de empresas de Logística e de Transportes.
 

Ainda me recordo como se estivesse vivendo aquelas sensações no presente momento, o elevado grau de frustração que tivemos, quando no ano 1995 fomos informados que o gigantesco grupo internacional do setor de transportes para o qual trabalhávamos tomava a decisão de abandonar suas operações na Espanha.
A decisão foi-nos anunciada durante uma multitudinária reunião liderada pelo grupo de capital e riscos que assumia o controle financeiro de nossa organização.
Nossos anteriores dirigentes, presentes na reunião, agradeciam o esforço e dedicação profissional e pessoal de alguns membros presentes no evento. Determinados companheiros de trabalho contavam com uma folha de serviços de 5, 10, 15 e até 20 anos para a empresa que acabava de fusionar-se com um dos seus principais concorrentes.
A partir da apresentação triunfal do plano empresarial; não tínhamos nenhuma outra opção que não fosse aceitar o projeto já levado à cabo, passamos a viver uma das piores experiências profissionais que tive em minha dilatada carreira.
Quando conhecemos o projeto, à primeira vista chegamos inclusive a pensar que o mesmo tinha alguma possibilidade de ser vitorioso.
Os novos administradores das organizações então fusionadas, apresentaram-nos detalhes da empresa que haviam adquirido há alguns meses atrás e com a qual passaríamos a conviver mediante o processo de fusão materializado. Os profundos câmbios realizados na empresa anteriormente adquirida, segundo os dados apresentados, redundaram no aumento da eficiência, da eficácia e da obtenção de um espetacular resultado econômico com cifras de rentabilidade muito interessantes.
Tudo estava minuciosamente estudado para lograr uma melhora exponencial nas organizações que passariam a conviver sob a direção do mesmo Comitê de Direção integrado por administradores financeiros e alguns profissionais com uma dilatada experiência no segmento dos transportes urgentes.
Porém, o tempo foi-nos indicando que não haviam dado a mais mínima importância para o fator social daquela integração de empresas com culturas tão distintas...
Além de uma situação de fusão empresarial de duas organizações com estruturas humanas e materiais tão distintas, em certos casos tais estruturas estavam duplicadas ou até triplicadas. Existia uma guerra sem quarteis entre os profissionais das empresas composta por mais de 1.200 pessoas.
O projeto não contemplava nenhum respeito pelas pessoas... Não existia nenhuma preocupação em escutar as experiências que uma serie de profissionais bem intencionadas estavam dispostas a colocar à disposição dos novos dirigentes.
O grupo investidor aterrissou na nova organização com ideias já concebidas; com planos realizados nos seus laboratórios de experimentos, com equações teóricas que sempre obtinham o mesmo resultado: “Isso será feito assim e não existe discussão”.
Uma soma de despropósitos invadiu o dia a dia das organizações fusionadas e rapidamente o mercado pode constatar que neste processo os resultados jamais alcançariam a lógica de que 1 + 1 é igual a 2.
Pouco a pouco os clientes foram perdendo qualquer vínculo com a nova organização, seus interlocutores habituais desapareciam do cenário e na maioria dos casos os clientes não tiveram sequer oportunidade de obter explicações plausíveis dos motivos pelos quais os interlocutores habituais eram despedidos.
Num período de tão somente 5 meses, quase 500 postos de trabalho deixaram de existir. Na maioria dos casos foram realizados pactos econômicos bastante favoráveis para os empregados que eram despedidos; porém, não existia nenhum plano de ação para preparar as pessoas que assumiriam as funções deixadas pelos funcionários que eram despedidos.
A concorrência disfrutava com o elevado grau de desconfiança que reinava, tanto no ambiente interno da nova organização fusionada como com o grande número de profissionais preparados que passavam a estar disponíveis no mercado e que não tinham nenhuma dificuldade de iniciar uma nova relação comercial com outras empresas do segmento.
De uma maneira resumida, o projeto fracassou estando os armazéns abarrotados de mercadoria para ser transportada; não tínhamos uma crise de mercado. Passávamos por uma enorme crise de empresa na qual a incompetência dos dirigentes era absoluta...
Quando perdi a esperança de poder influenciar e participar de forma ativa no processo de decisões, apresentei de maneira sumaria minha demissão e a única preocupação era saber se a motivação que eu tinha para abandonar o projeto era econômica; podemos chegar a um acordo, dizia o Diretor Geral da organização...
Assumi um novo desafio profissional e desde minha nova perspectiva pude constatar, sem a pressão do dia a dia, os despropósitos que podem acontecer em um projeto de fusão empresarial mal estruturado e mal conduzido.
Desde o ano 1996, quando terminei aquela desagradável, porém, enriquecedora experiência pessoal e profissional, pude constatar outras tragédias semelhantes, tanto no Brasil como na Europa...
A questão que procuro abordar neste artigo é de absoluta atualidade. Um projeto de fusão e aquisição de empresas dos segmentos de serviços, especialmente em uma atividade tão complexa como é o setor de transportes e das operações logísticas, deve ser objeto de um plano estruturado no qual as pessoas tenham um papel relevante.
Não podemos menosprezar a experiência acumulada por profissionais que em muitos casos estão colocando o melhor de si para o êxito de um projeto. O diálogo, o intercâmbio de informações, a participação e a troca de experiências deve nortear as atividades nos processos de F&A.
A realização de uma operação de F&A não pode interromper o dia a dia das atividades realizadas por uma organização. Isso equivale afirmar uma operação de F&A deve ser confiada a profissionais com experiência contrastada no segmento.
Desde nossa organização, SOMA LOG, fazemos um esforço cotidiano para que o desenvolvimento das operações nas quais participamos não tenha um final trágico como algumas situações que conhecemos e outras que vivemos de maneira direta.
Somos uma empresa de Assessoria e Consultoria Integral em operações de F&A, que opera no âmbito de operações corporativas, realizando atividades de FUSOES e AQUISIÇOES exclusivamente para empresas que trabalham nos setores de Logística e Transportes.
Podemos afirmar que nos próximos anos serão realizadas importantes operações de Fusões e de Aquisições de empresas dos setores de Logística e de Transportes que atuam no mercado brasileiro.
Da mesma maneira como ocorreu em mercados maduros, como o Europeu ou o Norte Americano, a tendência é de uma concentração do número de empresas que atuarão no segmento.
Temos identificado diversas empresas que estudam poder levar à cabo uma operação de F&A no segmento de Logística e de Transportes.
Dados os despropósitos de situações como a que tento relatar, o próprio mercado investidor já adotou mecanismos para minimizar os riscos de uma operação mal sucedida. Atualmente, os empresários que queiram abordar um projeto de venda de suas empresas, deve ser consciente que parte do pagamento dos valores definidos na operação, serão retidos e os pagamentos realizados nos próximos 2, 3 ou 5 anos, ligando a liberação das quantidades futuras ao cumprimento do BUSINESS PLAN que deve fazer parte integrante do processo.
Pouco a pouco este fenômeno de F&A de empresas de logística e de transportes começa a ser realidade no Brasil; pensemos que há alguns anos atrás era impensável que algumas das tradicionais empresas de transportes do Brasil passassem a ser controladas por grupos internacionais.
Portanto, para abordar um processo de F&A devemos preparar as nossas organizações para observar uma questão tão simples e essencial como é o respeito pelas pessoas que integram uma organização de serviços.
De uma maneira resumida nosso conselho é que uma empresa deve ser preparada no dia a dia para que quando os acionistas abordem uma opção de Venda e/ou de Fusão da organização, não seja necessário adotar mecanismos artificiais para estruturar o sistema de controle e das relações humanas que devem reinar na empresa.
A adoção de um programa de governança corporativa, com a publicação sistêmica dos resultados, a constituição de um Conselho ou Comitê de Direção que supervisiona a consecução dos resultados obtidos e acompanhe a adoção das ações necessárias, quando existam desvios comparados com os objetivos previstos é um passo importante para atrair bons investidores; nossa empresa de Logística e de Transportes tem um valor que é o resultado dos resultados atuais e da projeção de resultados previstos nos planos de expansão previstos para o curto e médio espaço de tempo.

Por Roberto Lacerda Oliva

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