Em que década estamos mesmo?

China: um dos muitos países que crescem acima do Brasil....

A semelhança entre os anos 1980 e 2010 e é grande. A década de 80 é chamada de " perdida", embora não tenha sido a única. A de 90 também foi e a de 2000 foi meio perdida. Ou seja, só estamos perdendo. Entra ano, sai ano, entra década sai década, sempre mais do mesmo. Atraso de vida, crescimento irrisório. Isso no Brasil, pois nessas três décadas o mundo cresceu. Em 2012 o mundo cresceu cerca de 3%. A crise é de países, não do mundo.
A China, entre 1979 e 2012, tornou-se o que todos conhecem. A Coreia do Sul, que era pior do que o Brasil nos anos 70, idem. O Chile se tornou o melhor país da América Latina. Os EUA, com Bill Clinton, deram um extraordinário salto. E, assim, outros países, como a Índia, a Rússia e muitos da África.
Após os choques do petróleo, em 1973 e 1979, as coisas desandaram em nosso país, que sabia crescer, sim senhor. E desaprendeu. Entre 1901 e 1980 o país cresceu, na média anual, 4,9%. Entre 1959 e 1980, 8,1%. Entre 1967 e 1974, 11%. Éramos chineses antes dos chineses...
Após o choque do petróleo, quando o Brasil importava 95% do óleo de que precisava, e custava uma migalha, as coisas iam bem.
O país, que havia inventado o álcool como combustível , achou que isso era suficiente. E o presidente de plantão disse a bobagem mor: "Nada sofreremos, somos uma ilha de prosperidade".
Como éramos importadores de petróleo, que saltou de cerca de US$ 1,20 para US$ 14 e, depois para US$ 40 o barril, a vaca foi, literalmente, para o brejo. Com falta de divisas, em 1987, o presidente então declarou a humilhante moratória. As três décadas, de 1981 a 2010, mostraram um país subjugado pelo baixo crescimento. E, pior, pela incompetência de que foi tomado. Um brasileiro com menos de 50 anos não sabe o que é crescimento: a média desses 32 anos é de 2,5% ao ano. Perdemos qualquer chance de crescimento nesse período.
Nossa infraestrutura foi destroçada. Hoje, nossas ruas sequer são pintadas com separação de faixas, o que aumenta o risco de acidentes. A educação foi para a cucuia. A saúde é de dar dó. A segurança não só decresceu, mas desapareceu. Metade dos brasileiros não tem água encanada e esgoto.

E assim por diante...

Não contente com o que passamos nesses 32 anos, tivemos outra situação igual em 2008. Com o novo rei de plantão – viramos uma monarquia disfarçada – tivemos a reedição da bobagem mor: "Esta crise é uma marolinha que nunca atravessará o Atlântico e não nos atingirá", disse ele.
Da mesma forma que em 1979, aí está o que já chamamos de marolona. Tudo está se passando da mesma forma que na década de 1980. Em dois anos desta atual década, tivemos "crescimentos" de 2,7% e 0,9%, com média de 1,8% ao ano. A década de 1980 teve crescimento médio de 1,66%. Só falta o governo e os otimistas de plantão dizerem que não é igual, que crescemos fantásticos 0,14% a mais.
O que se nos apresenta pela frente é terrível. A infraestrutura passa por situação bem mais grave do que nos anos 1980.
A indústria está em queda e a desindustrialização corre célere. A educação está em queda flagrante, não formando o que é preciso, nem na quantidade, nem no nível. Já se cogita abrir mercado de trabalho aos estrangeiros, em especial engenheiros. Nossa inovação é precária, e não se cresce sem ela. A carga tributária, sempre subindo, tira qualquer chance futura de investimento e crescimento, aliada à alta taxa de juros. O juro, no mundo hoje, é negativo.
A incompetência grassa no governo, sem ninguém do ramo nos postos chaves. Não há ministério em que haja um profissional da área nele. Empresas estatais, idem. A política é dona de todos os cargos. Os gastos são extraordinários. ministérios sobram, pelo menos três vezes o que se precisa. E, com tantos deles, é um mistério não haver um Ministério do Comércio Exterior ou do Comércio Exterior e Logística, conforme já defendemos em vários artigos ao longo do tempo.
Mistérios à parte, o mais rico país do mundo – já explicamos isso também – se comporta como um dos mais pobres. Pobre Brasil.

Samir Keedi é consultor e professor da Aduaneiras e de várias universidades, autor de vários livros em comércio exterior.samir@multieditoras.com.br

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