Logística, transportes e o futuro

Temos pensado muito no futuro da logística e dos transportes no Brasil. E imaginando como será daqui a 22 anos. Estamos pensando em 22 por ser este é o período que já se passou desde a his tórica abertura econômica.
Analisando hoje, com os olhos de ontem, que foi o que fizemos em 1990 para olhar para o futuro, pensamos que em cerca de uma ou duas décadas teríamos um sistema logístico de fato, excelente. Hoje, olhando para o passado, o que conseguimos ver? O avanço que imaginamos?
Infelizmente não foi o que ocorreu. E, hoje, renovando nossas esperanças – um pouco sem esperança –, voltamos a imaginar o que poderemos ter em 2034. Partindo do que temos agora, do que conseguimos, os leitores entenderão nossas reduzidas esperanças. Só conseguimos imaginar que, lá na frente, ao pensarmos em 44 anos, poderemos ter que renovar por outros tantos anos.
Antes de sermos tachados de pessimistas, o que jamais fomos, vamos ver o que temos. Nem todos conseguem compreender que realismo nada tem a ver com pessimismo. Nem tampouco com otimismo. Realismo é um conceito único, se relaciona com fatos.
Todos sabemos que o Brasil é um País rodoviarista. Que sua matriz de transportes, a pior que poderíamos ter, é baseada no transporte rodoviário, com 60%. Somos um País rodoviarista e, no entanto, temos apenas 1,5 milhão de quilômetros de rodovias, sendo apenas cerca de 170.000 asfaltadas. Os EUA, segundo estatísticas, têm mais de 6 milhões de quilômetros, com pelo menos uns 70% asfaltados.
Nossa ferrovia pode ser considerada a pior do mundo. Em que evoluiu para 28.000 quilômetros entre 1854 e 1920, subindo a 36.000 em 1948, para 32.000 em 1964 e para pouco mais de 28.000 atualmente. Em que, em termos relativos, temos 3,4 quilômetros lineares de ferrovia para cada 1.000 quilômetros quadrados de território. A Argentina tem 12, a Inglaterra, 60; a França, 70; e a Alemanha, 130. Em termos absolutos, a Alemanha tem 45.000 quilômetros de ferrovias. O Japão, 23.000. Os EUA têm uma ferrovia total de 300.000 quilômetros, ou 32 para cada mil quilômetros quadrados de território.
O País tem uma quantidade enorme de rios, talvez a maior do mundo, com cerca de 42.000 quilômetros.
Mas apenas 13.000 são hidrovias, com uso de 8.000, e meros 2% da carga circulante. Nossa costa marítima é de 7.500 quilômetros, e mal aproveitados. O tempo médio de permanência de um container no porto, segundo a Santos Brasil, é de 17 dias. A média mundial é de cinco dias.
O Fórum Econômico Mundial, na análise da qualidade da infraestrutura, nos coloca, segundo seus estudos relativos a 2011, nas seguintes posições: 104ª na média geral; individualmente, temos a 91ª posição em ferrovia, a 110ª em rodovia, a 122ª em aerovia e a 130ª em portos. E isso, pasmem, na análise de 142 países.
Considerando que somos a sexta economia do mundo em termos absolutos – embora esse tipo de análise seja falso – podemos nos dar conta da vergonha que isso representa. Se considerarmos nossa real posição econômica no mundo, pela análise da renda per capita, muito mais realista, já que considera a produção total (PIB – produto interno bruto) em relação aos habitantes que produziram sua riqueza, também nos colocamos muito abaixo do que deveríamos – já que nela estamos pouco acima da 50ª posição.
O investimento na infraestrutura brasileira explica tudo. Dizem que pertencemos ao BRIC – sempre contestamos e dissemos que isso não existe, existindo apenas RIC. Neste quesito também estamos fora da realidade deles. A Índia investe por ano 4% do seu PIB. A Rússia e a China investem 5% cada. O Brasil investe meros 0,49%. Qualquer empresário, economista, cidadão de bom senso e com alguns parcos conhecimentos econômicos sabe que isso é uma tragédia.
Assim, não há como ter um sistema logístico, produtividade e competitividade adequados. De modo a concorrer em condições de igualdade com o mundo. Sem contar as nossas cargas tributárias recordes, taxas de juros e muitos outros problemas. Resultando em baixíssimos investimentos de cerca de 18% em toda a economia. Pouco mais de um terço da taxa da China.
E, pior que isso, nos damos ao luxo de criticar a China pelos nossos problemas. Que seriam muito mais graves sem ela.
Érepresentativo e importante destacar, para reflexão, que no ranking internacional de educação de 2011, em leitura, matemática e ciências nos colocamos, respectivamente, nas 53ª, 57ª e 53ª posições. A Rússia na 43ª, 38ª e 39ª. A China, considerando Shangai e Hong Kong, na 1ª e 3ª em todos os quesitos.


Samir Keedi é professor da Aduaneiras e de Pós-MBA, bacharel em Economia, autor de vários livros em comércio exterior, transporte e logística.

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