Terminal da Molinos em San Lorenzo, próximo a Rosário - ARG

Na Argentina, a qualidade da logística como neste caso impressiona...

O que salta aos olhos quando se entra na área de produção de soja e milho da Argentina, é a qualidade de sua logística. Depois de se percorrer o norte, com grandes propriedades que se dedicam à pecuária, e chegar ao centro do país onde está Rosário, as extensas planícies do pampa continuam as mesmas, mas surgem as grandes plantações que transformaram a região no maior centro de processamento de soja do mundo, com capacidade de esmagamento superior a 130 mil toneladas diárias, em 18 plantas industriais instaladas nas barrancas do Rio Paraná, o que faz da Argentina o maior exportador mundial de óleo de soja.
O mais impressionante é ver fundeados nos portos e terminais instalados num raio de 60 quilômetros de Rosário os grandes navios da classe Panamax, de até 65 mil toneladas, esperando para receber sua carga, a uma distância de 450 quilômetros da saída para o mar, feita pela região de Buenos Aires. Isso é possível porque o calado natural do Paraná nesta região atinge a 22 metros e eles sobem o rio com facilidade até Rosário.  Tudo isso faz com que o frete por tonelada na região fique na faixa de 20 a 30 a dólares, enquanto que no Brasil a safra do Mato Grosso precisa percorrer dois mil quilômetros até Santos, pagando um frete de 120 dólares por tonelada a partir de Sorriso.
“Mais de 80% da produção argentina de soja é escoada por estes portos e toda ela industrializada”, conta Sebastián Canteli, Chefe de Logística da Planta de San Lorenzo da Molinos Rio de Plata, que possui uma das maiores processadoras de soja da região, com capacidade para 20 mil toneladas diárias. E mais da metade desta movimentação, destinada na sua maior parte à China, é negociada pela Bolsa de Comércio de Rosário importante formador de preços para a região que, em 2011, realizou negócios com produtos agrícolas na ordem de 40 milhões de toneladas.
Pioneira na América Latina no uso da biotecnologia em produtos agrícolas, a Argentina também está preocupada em manter a liderança continental. Duas de suas mais importantes empresas da área de sementes – a Don Mário e a Nidera, lideram as vendas no Brasil com mais de 30% do mercado. Há poucas semanas, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner anunciou o patenteamento de tecnologia genética desenvolvida por cientistas locais para obter sementes transgênicas mais resistentes à seca e a salinidade do solo, num trabalho conjunto da empresa Bioceres, da Universidad del Litoral e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação que introduziu na soja um gene chamado HAHB4 originário do girassol. A Bioceres, aliás, formalizou um acordo de parceria com a empresa norte-americana Arcádia e já obteve licença para fazer os primeiros ensaios de campo nos Estados Unidos, onde serão investidos no projeto pelo US$ 20 milhões nos próximos três anos.
A descoberta pode impulsionar os planos do governo de aumentar à produção nacional de soja em mais 20 milhões de toneladas incorporando áreas que não estão destinadas a produção atualmente pela pouca quantidade de chuvas como o Chaco argentino. “Todas as pesquisas demonstraram que a nova semente de soja transgênica com o HAHB4 consegue uma produção entre 15% a 20% maior que sementes similares ao ser submetida ao estresse hídrico”, informa Martin Vásquez, Gerente de Pesquisa da INDEAR, um dos braços do projeto da Bioceres. A descoberta parece ser importante também porque a seca vem afetando o país quase como uma rotina nos últimos anos. Em 2012, a previsão de uma colheita de 54 milhões de toneladas já foi reduzida para 43 milhões de toneladas pelo governo, mas especialistas acreditam que a safra irá alcançar a 40 milhões de toneladas.

Por Norberto Staviski, de Rosário, Argentina
Fonte: Gazeta do Povo

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