Luta para ser sustentável

Nesta fase de ações concretas ou discursos sobre a preservação ambiental pelo mundo, chama a atenção o programa de reciclagem de uma indústria catarinense, a Termotécnica, de Joinville, fabricante de embalagens de poliestireno expandido (EPS), conhecido como isopor, para eletrodomésticos e outros produtos. Em processo liderado pelo seu presidente, Albano Schmidt, a empresa investiu em centros nas suas oito fábricas para receber de volta embalagens usadas e transformá-las em subprodutos ou em nova matéria prima em minirrefinaria. Com o impulso da nova política nacional de resíduos sólidos, a empresa conta com o apoio de grandes varejistas e terá a colaboraçãode prefeituras para coletar, receber e reciclar parte crescente dos seus produtos. Albano Schmidt, que tem empreendedorismo no DNA – já fundou empresas de software, seguro e logística portuária –, busca alternativas para o uso do EPS reciclado com retorno financeiro. O empresário, que acaba de ser indicado para receber a Medalha do Mérito Industrial de Santa Catarina pela Fiesc, também mostra inquietação com a qualidade da gestão pública.
O empresário Albano Schmidt, 50 anos, é presidente da indústria de embalagens Termotécnica, da Associação Brasileira do Poliestireno Expandido e da Câmara de Energia da Fiesc. É graduado em Engenharia de Produção pelo Instituto de Engenharia Paulista e tem pós-graduação no Babson College, dos EUA. Neto de Albano Schmidt, fundador da Tupy, e filho de Dieter Schmidt, que sucedeu o pai à frente da empresa, Albano já presidiu diversas entidades e atuou como executivo. Em 1999, assumiu a Termotécnica, empresa que ficou com a família quando a Tupy foi vendida, em 1995. É casado com a empresária do setor de decoração Scheila Schmidt, e tem dois filhos, Albano Francisco (21 anos), estudante de Direito na Univille, e Antônio Cecílio, 13 anos, estudante.
Por que o esforço da Termotécnica para reciclar?
Albano Schmidt – Nossa empresa trabalha exclusivamente com uma matéria-prima, o EPS, em todos os ramos que pode ser aplicada. Dos nossos negócios, 70% são para embalagens de eletrodomésticos como refrigeradores, frezzeres, fogões, aparelhos de som e outros; cerca de 20% são aplicações na construção civil, como isolante térmico, alívio de peso em laje e estamos indo para uma linha a ser usada em painéis construtivos, o ICF, para montar imóveis rapidamente. Também fazemos caixas para transportar alimentos. Como o EPS é totalmente reciclável e não prejudica o meio ambiente nem a camada de ozônio, decidimos buscar alternativas de transformação.
Como a empresa está no mercado, e há plano de expansão?
Albano Schmidt – Somos líderes no merdado brasileiro e na América Latina, somos verticalizados na ferramentaria e projetos.Temos oito fábricas no Brasil, em Joinville, São José dos Pinhais, três em São Paulo (Rio Claro, Sumaré e Indaiatuba), Goiânia e Manaus. Além disso, temos centro de distribuição em Sapucaia do Sul (RS) e estamos investindo em nova unidade em Petrolina, no Nordeste. Geramos, atualmente, mais de 1,5 mil empregos diretos.
Esse projeto ambiental enfrentou muita resistência?
Albano – Começamos por vola de 2000. Apesar de ser um produto totalmente reciclável, foi difícil. Nossos parceiros da indústria evitavam, temiam que o governo fizesse exigências. Os grandes varejistas de eletrodomésticos foram resistentesno início. Eles disseram que éramos os parceiros que eles queriam, mas afirmaram que esse negócio de reciclagem era problema nosso. Coletar isso do meio ambiente é responsabilidade do ente público. Aí fomos atrás de cidade que tem coleta seletiva. Dos 5.650 municípios do Brasil, não exitem 300 com coleta seletiva, e, desses, você não consegue 30 que funcionam bem. Continuamos o trabalho e, depois, por pressão dos consumidores que começaram a fazer coleta seletiva, os varejistas passaram a recolher as embalagens e levar para os seus centros de distribuição (CDs). Então, decidimos instalar centros de coleta nas nossas fábricas para receber e reciclar esse material, num processo de logística reversa.
O que a empresa faz com o EPS reciclado?
Albano – Usamos para itens de construção civil. Se não moemos, desgaseificamos ele por um processo simples, pelo qual a gente obtém PS, uma materia-prima que pode ser usada em “n” aplicações, como para fazer piscinas, canetinhas, capas de CD, réguas e outros produtos. E a empresa, pelo fato de fazer a própria materia-prima, tem uma pequena petroquímica em Joinville que reintroduz isso no seu processo, e obtém uma matéria-prima virgem novamente. Nos últimos 10 anos, investimos mais de R$ 1 milhão em pesquisa e equipamentos para essa unidade. Nossa intenção é fazer subprodutos que gerem retorno. São processos que precisam se pagar e acreditamos que isso é possível. A nova política nacional de resíduos sólidos vai ajudar. Começamos em 2007 coletando perto de 40 toneladas por mês e fechamos 2010 com mais de 400 toneladas. Para você ter ideia, numa carreta de 80 a 100 metros cúbicos não é possível carregar mais do que 500 quilos de EPS. Todos os meses, mais de 800 carretas entram nas nossas unidades com materiais pós-consumo para serem reciclados. Isso deve chegar, até o final do ano, a mais de 500 toneladas.
Como analisa a baixa competitividade do Brasil?
Albano – A gente tem reclamado muito da pesada carga tributária e, cada vez mais, isso tem ficado um ônus para o empresariado. Eu tenho dito que ser empresário neste país é ser herói. Antigamente, a gente competia com China, a Ásia. Hoje, nossos produtos estão mais caros do que os europeus devido a essa carga tributária maluca. Tudo no Brasil é mais caro do que nos EUA. Até a comida, que era mais barata aqui já não é mais. Isso é resultado da nossa ineficiência de infraestrutura e essa truculência arrecadatória do governo. Temos carga tributária da Suécia e serviços públicos de Terceiro Mundo.
E o projeto do Código Florestal?
Albano – Está uma vergonha, uma discussão da bancada ruralista com xiitas e ONGs. Temos que ter uma legislação adequada, mas que respeite direitos já existentes de pequenas propriedades, como as de SC. É preciso coibir os desmatamentos de ruralistas, que são uma vergonha.
Notas...

Reciclável
Um dos desafios da Termotécnica foi provar para gigantes mundiais do setor de eletrodomésticos que o EPS (isopor) é um produto mais sustentável do que o papel e outros. Para reciclar EPS se consome pouca energia e quase nada de água.
No caso do papel, é preciso usar muita água e muita energia. Além disso, o processo de transformação do papel gera efluente, e do EPS não, explica Albano Schmidt.O papelão em aterro, segundo ele, gera metano, que é 20 vezes pior do que o CO2.
Mundo
Embalagens da Termotécnica também são enviadas ao exterior com os produtos, mas o Brasil é consignatário de um acordo internacional de responsabilidade pela reciclagem de todo material, até das embalagens que chegam aos seus territórios.
– Nós estamos participando de eventos internacionais para mostrar a nossa experiência, que é economicamente viável reciclar EPS– diz Albano.
Energia
A energia vai encarecer no mundo todo porque a geração está cada vez mais cara. Para Albano Schmidt, mudar a matriz energética do país para eólica é muito caro, a energia nuclear é muito perigosa e as fontes de carvão também são caras. Na sua avaliação, o Brasil deve continuar apostando em hidrelétricas, mas é preciso investimentos constantes para ter a oferta necessária.

Fonte: ANTF e Blog Estela Benetti

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