Etanol pode agravar questão ambiental

A criação do veículo bicombustível impulsionou a indústria do etanol no Brasil. Em março deste ano, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) comemorou a produção de dez milhões de veículos da categoria após quase sete anos do início da fabricação do Flex no mercado nacional.
Nesse sentido, o mercado de etanol tem positivas perspectivas de crescimento, tanto no âmbito nacional como no exterior. Segundo o estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) - “Biocombustíveis no Brasil: etanol e biodiesel”, da “Série Eixos do Desenvolvimento Brasileiro”, somente em solo internacional o potencial de consumo pode atingir mais de duas centenas de bilhões de litros, nos próximos dez anos.
Porém, de acordo com a análise do Ipea, escrita por Junia Cristina Peres, com a colaboração de Gesmar Rosa dos Santos e Fabiano Mezadre Pompermayer, todos técnicos do instituto, pode haver um empecilho para essa expansão, se for considerado o protecionismo ao mercado internacional, principalmente no que se refere à sustentabilidade socioambiental.
Peres conta em seu estudo que o País possui áreas de cultivos aptos para o plantio que totalizam 70 milhões de hectares, principalmente em regiões já desmatadas que seriam foco de interesse para o cultivo da cana-de-açúcar para a produção de etanol.
Para impedir a exploração dessas regiões, o governo brasileiro instaurou entre sindicatos, governo e usineiros o “Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar” e o ZAE (Zoneamento Agroecológico) da Cana-de-Açúcar, que impede a expansão da cultura e a instalação de novas usinas na Amazônia, no Pantanal e na Bacia do Alto Paraguai.
Uma outra questão diz respeito à segurança alimentar, na qual cogita-se a possibilidade de o País perder potencial como produtor de alimentos. Conforme relatou Peres, isso não acontecerá, “basta que o Estado acompanhe a regulação da produção de etanol e biodiesel, e priorize a produção de alimentos com financiamento e infraestrutura”, ressalta.
Preços
A livre prática de preços no setor, com base nas variações da oferta e demanda, também é uma problemática diz a representante do Ipea. A medida do Ministério da Agricultura de estabelecer que o País forme um grande estoque regulador de etanol a partir de 2010 deve influenciar a estabilidade nos valores.
No entanto, para Peres, a regulação do mercado, consolidando as compras futuras, e a liberação da alíquota para importação de etanol, impulsionaram de forma mais eficaz a regulação dos preços do etanol.
Para o Ipea, trata-se também de desenvolver inovações que reduzam o custo da produção antes que a cana-de-açúcar chegue à usina, considerando inclusive os meios de produção e as condições empregatícias nas fazendas para que o usuário final seja beneficiado.
O desenvolvimento tecnológico também entra em pauta. O levantamento do instituto indica que, atualmente, são altos os investimentos para se manter padrões de desenvolvimento e domínio de mercado no setor de combustíveis. E um dos fatores que está diretamente ligado a esta questão diz respeito a concentração da produção do etanol em grandes empresas no Brasil e no mundo.
De acordo com o estudo, o incentivo em Pesquisa e Desenvolvimento no setor proporcionaria um avanço no setor, tanto no que se refere à manutenção das medidas em relação ao domínio tecnológico dos biocombustíveis com perspectiva de longo prazo, como da coordenação de linhas de financiamentos e programas em ciência, tecnologia e inovação.

Fonte: WebTRasnpo

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