Um duo de empreendedores deu forma ao projecto
transportespublicos.pt, um novo simulador de viagens que pretende
abarcar todo o território nacional. Mas a informação dos serviços
prestados pelas empresas continua dispersa e, por vezes, desactualizada.
Na verdade, encontrar na
Internet uma ferramenta de planeamento de viagens fiável, que em
Portugal, fora das áreas metropolitanas, nos diga como ir de A a B - de
Barcelos a Mértola, por exemplo - em vários modos de transporte,
conjugando os respectivos horários, não é tarefa fácil.
O
Instituto para a Mobilidade e Transportes Terrestres (IMTT) criou há uns
anos o Transpor, mas, de cada vez que lá fazemos uma simulação,
recebemos um aviso para a necessidade de confirmar a informação dos
horários com os operadores indicados. Algo que não facilita muito...
O
transportespúblicos.pt é a última ferramenta de planeamento de viagens
disponível em Portugal e distingue-se por usar programas gratuitos
desenvolvidos pela comunidade online, e por conjugar o transporte
público com os modos "suaves", com destaque para a bicicleta. Para além
disso, dispõe de um versão em inglês, a pensar nos turistas.
Mas, nesta como noutras soluções, a fiabilidade da informação é o grande problema. Para além do Transpor e do transportespublicos.pt, há sites de planeamento de âmbito mais restrito, o Itinerarium, que cobre rotas da STCP, Metro e CP no Grande Porto, e o TransporLis, em Lisboa, também disponível para smartphone. Para o Porto também existe uma aplicação móvel, a Move-me.
O
arquitecto Nuno Gomes Lopes, envolvido em associações de defesa do
transporte público e o perito em computação científica Ricardo Reis da
Silva, doutorado em Matemática na Universidade de Amesterdão, são os
responsáveis pela transportes.públicos.pt. Os dois fundaram a empresa
social Mais Perto, depois de, em 2011, o segundo ter visto o seu
projecto Teco Planner chegar aos dez finalistas do concurso Faz - Ideias
de Origem Portuguesa. O planeador de viagens Teco deu origem ao
transportespúblico.pt, mas nem por isso os seus promotores estão perto
de alcançar o seu objectivo.
Num mundo em quase tudo está online
e poucas são as empresas que não usam bases de dados para gerir o
dia-a-dia dos respectivos serviços, seria normal que fosse possível
encontrar toda a informação, actualizada, sobre carreiras, horários,
paragens e preços dos vários modos de transporte. Mas não é assim. Os
fundadores da Mais Perto têm de andar a bater às portas dos operadores e
alguns, explicam, fecham-se. "É o Portugal das capelinhas. Nem sequer é
um problema do sector. É algo de cultural no nosso país", diz Ricardo
Reis da Silva.
O vice-presidente da Antrop (Associação Nacional do
Transporte Pesado Rodoviário de Passageiros), José Eduardo Caramalho,
observa que há várias soluções informáticas no mercado, o que dificulta a
integração dos dados. Mas explica que há uma plataforma desenvolvida
pelo IMTT, que, depois de corrigidos "vários problemas" já detectados,
poderá ajudar a resolver esse problema. Que, assume o também
administrador da Valpi Bus, se conjuga, actualmente, com a pouca vontade
que cada operador tem de participar em projectos que permitam uma
comparação com a concorrência, numa fase em que a crise rouba clientes
ao sector.
ISEGI desenvolveu plataforma para o IMTT
ISEGI desenvolveu plataforma para o IMTT
Desenvolvido
em parceria com o Instituto Superior de Estatística e Gestão da
Informação da Universidade Nova de Lisboa, o SIG-Gesc - Sistema de
Informação Geográfica de Gestão de Carreiras é uma plataforma online
de participação obrigatória por parte das empresas, na qual são
inscritos todos os dados relativos ao serviço prestado por cada uma. A
partir dela, o regulador poderá fazer a gestão das concessões de
carreiras, mas a solução abre portas a inúmeras utilizações, quer para
organismos públicos - na área do planeamento urbano, por exemplo -, quer
para o cidadão comum.
Para já, um dos problemas é a discrepância
entre a informação inserida na plataforma e o serviço efectivamente
prestado por algumas empresas, assinala o presidente da Autoridade
Metropolitana de Transportes (AMT) do Porto, Joaquim Cavalheiro. E só
resolvida essa questão, que depende de um aumento da fiscalização por
parte das AMT de Lisboa e do Porto e do IMTT no resto do país, os dados
do SIG-Gesc passam a ser fiáveis e susceptíveis de engrossar as rotas
disponíveis nos vários sites de simulação de trajectos, incluindo o Transpor e o transportespublicos.pt.
Joaquim
Cavalheiro espera que, no final do Verão, a AMT lance um concurso para a
concepção de um simulador para toda a Área Metropolitana do Porto, ao
qual a Mais Perto poderá concorrer com a sua solução, em pé de igualdade
com outras propostas. A AMT considera importante que os viajantes
consigam planear todo o seu percurso, num mesmo sítio. E para Nuno Lopes
e Ricardo Reis Silva essa possibilidade pode ajudar a que, na hora de
escolher entre ir de carro ou usar o transporte colectivo, a escolha
recaia na segunda, e "mais sustentável", hipótese.
Promover o uso
do transporte colectivo é um dos objectos da Mais Perto. Depois de ter
chegado à final do concurso Faz - Ideias de Origem Portuguesa promovido
pelas Fundação Gulbenkian e Fundação Talento em 2011, O Teco Planner,
que deu origem aos transportes públicos.pt venceu um concurso de ideias
promovido pela NET, SA, o que permitiu a instalação da empresa social
entretanto fundada por Ricardo Silva e Nuno Gomes Lopes, no centro de
empresas NET, no Porto.
Neste momento o planeamento de viagens
está apenas disponível entre a Póvoa de Varzim e Espinho, e com um
número limitado de linhas e, desde esta segunda-feira, com a adesão ao
projecto dos Transportes Urbanos de Braga é possível ainda planear
viagens Braga-Maia, Braga-Porto e mesmo Braga-Matosinhos ou Braga-Gaia
(e vice-versa).
Os fundadores lançaram entretanto um apelo na Internet para conseguir angariar dois mil euros que lhes permitam manter online
o projecto transportespúblicos.pt, pois, para já, são poucas as
receitas obtidas. Estas chegarão essencialmente de publicidade. Assim,
os fundadores da Mais Perto- Soluções de Transporte Público colocaram o
seu projecto na plataforma de crowdfunding portuguesa PPL.
No primeiro mês, conseguiram quase 400 euros. O dinheiro servirá para pagar o alojamento do site na Internet.
Fonte: Publico.pt
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