Logística prejudica Brasil no mercado de grãos

Sem logística Brasil perde dos EUA em capacidade de armazenamento e escoamento da soja[...]

Rivais na produção de grãos, Brasil e Estados Unidos protagonizam disputa desigual pela liderança do agronegócio. E a logística – da disponibilidade de silos à escolha dos modais para escoar a safra – é o principal fator contra os brasileiros. O resultado é que, apesar de produzir com eficiência, o país não é estratégico na formação dos preços globais. Situação agravada com a falta de política agrícola que influencie os rumos do mercado de commodities, dizem analistas.
A logística para escoar a soja é exemplo da desigualdade. No Brasil, 82% da soja são transportados por rodovias, 16% por ferrovias e 2% por hidrovias; nos EUA, 15% são escoados por rodovias, 35% por ferrovias e 40% por hidrovias. Com economia de escala menor e más condições das estradas, o peso do frete no valor da tonelada de soja é bem maior aqui: 44%, contra 26% nos EUA.
- As rodovias são competitivas para distâncias de até 500 quilômetros, mas nossas carretas percorrem mais de dois mil quilômetros para levar a soja até o porto. Não garantimos economia de escala para diluir os custos fixos – diz Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral.
Outro problema que o Brasil enfrenta é a falta de armazéns. A capacidade de armazenagem corresponde a 80% da safra. Nos EUA, é de 120%. Isso cria uma situação perversa, sobretudo no caso da soja. Como os EUA estocam o grão, conseguem controlar sua oferta no mercado e, assim, ser um país estratégico na formação de preços. A Bolsa de Mercadorias de Chicago, principal praça para comercialização de matérias-primas e referência internacional das cotações, reflete em grande parte o que acontece no mercado americano.
No Brasil, os produtores precisam escoar a produção rapidamente para que não apodreça, o que os leva a se submeterem a pressões da China, principal comprador da nossa soja. A suspensão de compra de dois milhões de toneladas de soja (6% do volume exportado em 2012) por uma trading chinesa mês passado, por causa do nó logístico, revela o poder de fogo asiático.
“não temos política”
Semana passada, o produtor e senador Blairo Maggi (PR-MT) foi à China, a convite da Associação Brasileira do Agronegócio, para estreitar relações com o governo e tradings do país e mostrar como o Brasil pretende melhorar a infraestrutura.
- Os EUA têm política agrícola. Usam estoques para influenciar a oferta dos grãos e, assim, o preço. O Brasil simplesmente atende a demanda, não somos estratégicos na formação de preços e não temos política para isso – diz o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro.
Sem apitar na composição das cotações e com o caos logístico, os produtores de soja devem perder a oportunidade de ver a matéria-prima e os derivados galgarem um degrau na lista dos itens exportados. Hoje, o complexo da soja – grão, farelo e óleo – ocupa o segundo lugar da pauta, com US$ 25,8 bilhões exportados em 2012. Só atrás do minério de ferro (US$ 31 bilhões). A previsão da AEB era que o complexo atingisse US$ 32,5 bilhões este ano, mas está revendo a projeção.
O secretário de Política Agrícola, Neri Geller, rebate as críticas da falta de política agrícola:
- Não somos os EUA. Eles têm ferrovias, armazéns, e a produção está se estabilizando. Aqui, a produção tem crescido muito e a infraestrutura avança num ritmo mais lento.

Fonte: Luis Nassif, em : http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/logistica-prejudica-brasil-no-mercado-de-graos

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