As
discussões sobre a sustentabilidade, no transporte, quase sempre são
pautadas em torno da indagação de qual modal impacta menos no meio
ambiente. No Brasil, pelas suas características geográficas, muitos
especialistas apontam que os investimentos deveriam ser voltados às
hidrovias e às ferrovias, sendo que existe quase uma unanimidade
contrária à concentração tão grande no modal rodoviário. Hoje, segundo o
IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 58% das cargas são
transportadas por estradas no País.
Porém, em entrevista exclusiva ao Portal Webtranspo,
que encerra a semana da sustentabilidade, Fabio Rubens Soares, professor
do curso de Tecnologia em Logística do Centro Universitário Senac,
afirmou que, mais importante do que diagnosticar qual modal é mais
eficiente ecologicamente, é fundamental saber como trabalhá-lo da melhor
forma possível. “Quando falamos em transporte com relação ao impacto
ambiental não devemos somente considerar o modal isoladamente, mas
também o planejamento, as técnicas de otimização de espaço e recursos e
os custos por distância, além obviamente da estratégia das rotas e
localização de produção e armazenamento”, afirmou.
Confira a entrevista na íntegra:
Portal Webtranspo: Atualmente, 58% do transporte brasileiro de
carga acontece por caminhões, esse percentual não deveria ser menor,
pensando em impactar menos no meio ambiente?
Soares: Sim, talvez até um pouco mais de 58% de nosso
transporte acontece pelo modal rodoviário, por caminhões. No Brasil este
é o meio de transporte mais utilizado certamente por questões
econômicas que nos levou a implementar nossa infraestrutura baseada
nesse modal sem levar em consideração os impactos ambientais gerados, e
sabe-se que este meio de transporte colabora com a emissão dos gases do
efeito estufa precursor do aquecimento global. No entanto, quando
pensamos em modais de transporte, temos que avaliar algumas variáveis
que estão presentes nessa questão: a disponibilidade, custos e impacto
ambiental. Assim sendo, qualquer modal de transporte causa impacto
ambiental, pois todos eles de uma forma ou de outra utilizam energia
para locomoção e essa depende de fontes que hoje em dia
predominantemente vêm de combustíveis fósseis.
No Brasil, há um destaque à utilização de combustíveis de fontes
renováveis que colaboram com a questão ambiental. No entanto, quando
falamos em transporte com relação ao impacto ambiental não devemos
somente considerar o modal isoladamente, mas também o planejamento, as
técnicas de otimização de espaço e recursos e os custos por distância,
além obviamente da estratégia das rotas e localização de produção e
armazenamento.
WT: Pelas características geográficas brasileiras, qual modal deveria ser o escolhido tendo em vista a sustentabilidade?
Soares: Se pensássemos em termos econômicos e ambientais somente, o transporte hidroviário deveria ser incentivado.
WT: Hoje qual o modal que impacta mais no meio ambiente e qual menos?
Soares: No meu entender o rodoviário tem maior impacto
e o hidroviário menor. No entanto, não podemos simplesmente comparar
estes modais sem levar em consideração o seu grau de utilização e a
infraestrutura instalada em nosso país.
WT: Qual seria o mix de transporte ideal, pensando na intermodalidade, para agredir menos o meio ambiente?
Soares: O mix dependerá não somente de questões
ambientais, mas também, como dito antes, de questões econômicas e de
planejamento. Isso quer dizer que embora um determinado modal de
transporte possa ter características de menor impacto ambiental, se não
for devidamente otimizado em termos de eficiência e aproveitamento em
todo o ciclo, desde a origem até o destino, pode causar maior impacto do
que um modal de características de maior impacto ambiental.
WT: Qual é o grau de eficiência ecológica, hoje, do transporte brasileiro?
Soares:Embora o nosso modal seja predominantemente
rodoviário e considerando nossas características geográficas e condições
econômicas, nosso grau de eficiência pode ser considerado responsável,
devido ao incentivo na utilização de combustíveis de fontes renováveis,
como o álcool e o biodiesel. Isso coloca o Brasil, inclusive, a frente
de muitos países ditos de primeiro mundo no que diz respeito à
utilização de combustíveis de fontes renováveis. Evidentemente, há
espaço para melhorias e é isso que devemos continuar promovendo com
parcerias entre o setor público, setor privado e a sociedade.
WT: A questão ambiental do transporte também passa pela ampliação da infraestrutura?
Soares:Sim, hoje em dia as questões ambientais estão
presentes em todas as iniciativas, atividades e projetos no contexto de
infraestrutura e certamente estão presentes nos estudos de
desenvolvimento nos nossos meios de transporte e infraestrutura.
WT: O que mais influi para um transporte mais “verde”: a tecnologia embarcada ou os procedimentos de como ele é feito?
Soares: Eu diria que, tanto a tecnologia embarcada dos
produtos quanto a forma pelo qual o transporte é feito, influem
igualmente no transporte mais verde. Eu quero dizer com isso, que
considerando todo o ciclo entre a produção de bens até a entrega desses
bens ao consumidor, todas as atividades deste processo são
interdependentes e têm igual importância. Portanto, para o transporte
mais “verde”, ou seja, ambientalmente responsável, é preciso levar em
consideração a forma como projetamos os produtos a serem transportados e
o seu meio de transporte propriamente dito.
WT: Como o senhor avalia o grau de consciência ecológica do mercado de transporte brasileiro?
Soares:No meu entendimento, o grau de consciência
ecológica na infraestrutura de transportes no Brasil tem evoluído
substancialmente, principalmente, com o incentivo da utilização de
combustíveis de fontes renováveis e com a inserção de tecnologias que
otimizam a forma como nossos produtos são transportados. Hoje em dia, as
organizações têm cada vez mais investido em sistemas de melhoria na
eficiência das técnicas de transporte e no seu desempenho, inclusive o
aspecto ambiental. A procura no mercado cada vez mais intensa por
profissionais especialistas em logística demonstra essa questão.
WT: Hoje, há alguma empresa que se destaque em uma logística
mais “verde” desde o trabalho com o seu fornecedor até a entrega do
produto final ao consumidor?
Soares:Existem, no Brasil, várias empresas que se
destacam na adoção de sistemas logísticos denominados “ verdes” , entre
elas por exemplo a AMBEV e a Natura, entre outras.
Fonte: Portal Webtranspo
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