Escrito por Estado de Minas
Os problemas não são novos, mas ficaram escancarados. O crescimento da economia, a redução das desigualdades e a melhora do padrão de vida da população trombaram com um Brasil cheio de gargalos. O país que deu um salto positivo em diversos indicadores econômicos e sociais contrasta com um outro que tem estradas, portos, ferrovias e aeroportos precários, falta de mão de obra qualificada, custo alto do capital, carga tributária complexa e baixos investimentos públicos. É esse Brasil do atraso que vai travar a continuidade do desenvolvimento econômico a percentuais acima de 4% ao ano.
"O país está estrangulado. Isso é termômetro da falta de uma agenda clara do governo, que está demonstrando falta de capacidade de formular e implementar políticas públicas para resolver esses gargalos", critica o economista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani. Para ele, a decisão anunciada recentemente de privatizar parcialmente os aeroportos é um sintoma da falta de projeto de desenvolvimento consistente, pois a então candidata Dilma Rousseff havia garantido antes que isso não aconteceria. Mas a deficiência do setor combinada com a escassez de recursos públicos obrigaram a mudança de planos pelo governo.
O governo pretende também entregar à iniciativa privada a construção e operação de futuras instalações nos portos, que não têm espaço físico suficiente para carregar e descarregar contêineres. "Há também a falta de silos para armazenagem das mercadorias. Perde-se muito tempo no carregamento e na descarga por falta desses investimentos", assinala o presidente da seção de Transporte de Cargas da Confederação Nacional de Transporte (CNT), Flávio Benatti.
"O estado de graça acabou no final do ano passado. Os problemas que estão aparecendo deverão persistir", avisa o economista Fábio Giambiagi. Segundo ele, houve algum avanço com o Programa de Aceleração Econômica (PAC), mas nada expressivo que alterasse o diagnóstico da infraestrutura deficiente. "Esses avanços não têm sido suficientes para desimpedir a expansão futura", avalia ele.
Qualificação - Giambiagi destaca um outro gargalo que começa a piscar intermitentemente nesse momento de crescimento econômico: o apagão da mão de obra, a falta de profissionais mais habilitados e capazes de executar as funções exigidas pelas empresas pressionadas por maior produtividade. Na avaliação do economista, esse problema vai aparecer com mais nitidez provavelmente a partir de 2013, com a consolidação da situação de pleno emprego, configurada por uma taxa de desemprego considerada baixa, próxima de 5% (hoje está em torno de 6,5%). Nesse momento, a ausência de mão de obra será sentida pelo setor produtivo.
A previsão do mercado em geral é de que o país cresça a taxas de 4% em 2011 e 2012. "Para crescermos mais a partir de 2013 , teríamos que dar um salto na produtividade. Como não vai haver mão de obra capacitada disponível, a alternativa seria as pessoas empregadas serem mais produtivas", prevê Giambiagi.
O apagão da mão de obra deve causar, de imediato, um efeito cruel. A grande mobilidade social dos últimos anos, que alçou os mais pobres às classes C e D, terá dificuldade de alcançar quem continua na base da pirâmide social. Os grupos mais pobres e de baixa escolaridade terão cada vez menos chances de encontrar colocação no mercado formal por causa da maior sofisticação do processo produtivo e de maiores demandas educacionais por parte dos empregadores, avalia o demógrafo Haroldo Torres, da Consultoria Plano CDE. "Não se recupera a ausência de anos de escola da noite para o dia", afirma a antropóloga Luciana Aguiar.
"A elevada desigualdade incorporou ao mercado de trabalho e ao mercado consumidor as famílias que ganhavam menos. Mas, de agora em diante, ficará cada vez mais difícil atingir as pessoas do final da linha", analisa Giambiagi. Segundo ele, a melhora de vida dessa parcela da população foi possível graças às políticas sociais de distribuição de renda, como o programa Bolsa-Família, mas cujo efeito já se esgotou. Continuar chegando a essas pessoas será um desafio cada vez maior para as políticas públicas", diz o economista.
Baixo investimento- A parcela de recursos que o Brasil destina à construção de estradas e outras obras de infraestrutura e a compras de maquinários é uma das mais baixas do mundo. A taxa de investimentos está em 18,4% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) relativos a 2010. A maior parte é aplicada pelo setor privado. O poder público – União, estados e municípios – contribui somente com 5,1%.
Como comparação, a China investe no total 45,6%, o Vietnã, 34,5%, a Índia, 30,8% e a Rússia, 21,4%. Na América Latina, o Brasil aplica menos que Equador (24,1%), México (21,8%), Chile (21,4%) e Argentina (20,9%). "O produto brasileiro, de forma geral, acaba perdendo competitividade em função da infraestrutura deficiente, principalmente o de menor valor agregado", afirma Flávio Benatti, da CNT. Mais de 60% das mercadorias passam pelas rodovias, das quais em torno de 70% precisam de reparos. Apenas 20% das cargas circulam pelas ferrovias e 13% pelos rios. "O fato é que o governo deveria controlar os gastos correntes para sobrar dinheiro e aumentar o investimento público. Em vez de comprar clips, o governo deveria construir estradas", resume Padovani.
Fonte: NTC Logística
Os problemas não são novos, mas ficaram escancarados. O crescimento da economia, a redução das desigualdades e a melhora do padrão de vida da população trombaram com um Brasil cheio de gargalos. O país que deu um salto positivo em diversos indicadores econômicos e sociais contrasta com um outro que tem estradas, portos, ferrovias e aeroportos precários, falta de mão de obra qualificada, custo alto do capital, carga tributária complexa e baixos investimentos públicos. É esse Brasil do atraso que vai travar a continuidade do desenvolvimento econômico a percentuais acima de 4% ao ano.
"O país está estrangulado. Isso é termômetro da falta de uma agenda clara do governo, que está demonstrando falta de capacidade de formular e implementar políticas públicas para resolver esses gargalos", critica o economista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani. Para ele, a decisão anunciada recentemente de privatizar parcialmente os aeroportos é um sintoma da falta de projeto de desenvolvimento consistente, pois a então candidata Dilma Rousseff havia garantido antes que isso não aconteceria. Mas a deficiência do setor combinada com a escassez de recursos públicos obrigaram a mudança de planos pelo governo.
O governo pretende também entregar à iniciativa privada a construção e operação de futuras instalações nos portos, que não têm espaço físico suficiente para carregar e descarregar contêineres. "Há também a falta de silos para armazenagem das mercadorias. Perde-se muito tempo no carregamento e na descarga por falta desses investimentos", assinala o presidente da seção de Transporte de Cargas da Confederação Nacional de Transporte (CNT), Flávio Benatti.
"O estado de graça acabou no final do ano passado. Os problemas que estão aparecendo deverão persistir", avisa o economista Fábio Giambiagi. Segundo ele, houve algum avanço com o Programa de Aceleração Econômica (PAC), mas nada expressivo que alterasse o diagnóstico da infraestrutura deficiente. "Esses avanços não têm sido suficientes para desimpedir a expansão futura", avalia ele.
Qualificação - Giambiagi destaca um outro gargalo que começa a piscar intermitentemente nesse momento de crescimento econômico: o apagão da mão de obra, a falta de profissionais mais habilitados e capazes de executar as funções exigidas pelas empresas pressionadas por maior produtividade. Na avaliação do economista, esse problema vai aparecer com mais nitidez provavelmente a partir de 2013, com a consolidação da situação de pleno emprego, configurada por uma taxa de desemprego considerada baixa, próxima de 5% (hoje está em torno de 6,5%). Nesse momento, a ausência de mão de obra será sentida pelo setor produtivo.
A previsão do mercado em geral é de que o país cresça a taxas de 4% em 2011 e 2012. "Para crescermos mais a partir de 2013 , teríamos que dar um salto na produtividade. Como não vai haver mão de obra capacitada disponível, a alternativa seria as pessoas empregadas serem mais produtivas", prevê Giambiagi.
O apagão da mão de obra deve causar, de imediato, um efeito cruel. A grande mobilidade social dos últimos anos, que alçou os mais pobres às classes C e D, terá dificuldade de alcançar quem continua na base da pirâmide social. Os grupos mais pobres e de baixa escolaridade terão cada vez menos chances de encontrar colocação no mercado formal por causa da maior sofisticação do processo produtivo e de maiores demandas educacionais por parte dos empregadores, avalia o demógrafo Haroldo Torres, da Consultoria Plano CDE. "Não se recupera a ausência de anos de escola da noite para o dia", afirma a antropóloga Luciana Aguiar.
"A elevada desigualdade incorporou ao mercado de trabalho e ao mercado consumidor as famílias que ganhavam menos. Mas, de agora em diante, ficará cada vez mais difícil atingir as pessoas do final da linha", analisa Giambiagi. Segundo ele, a melhora de vida dessa parcela da população foi possível graças às políticas sociais de distribuição de renda, como o programa Bolsa-Família, mas cujo efeito já se esgotou. Continuar chegando a essas pessoas será um desafio cada vez maior para as políticas públicas", diz o economista.
Baixo investimento- A parcela de recursos que o Brasil destina à construção de estradas e outras obras de infraestrutura e a compras de maquinários é uma das mais baixas do mundo. A taxa de investimentos está em 18,4% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) relativos a 2010. A maior parte é aplicada pelo setor privado. O poder público – União, estados e municípios – contribui somente com 5,1%.
Como comparação, a China investe no total 45,6%, o Vietnã, 34,5%, a Índia, 30,8% e a Rússia, 21,4%. Na América Latina, o Brasil aplica menos que Equador (24,1%), México (21,8%), Chile (21,4%) e Argentina (20,9%). "O produto brasileiro, de forma geral, acaba perdendo competitividade em função da infraestrutura deficiente, principalmente o de menor valor agregado", afirma Flávio Benatti, da CNT. Mais de 60% das mercadorias passam pelas rodovias, das quais em torno de 70% precisam de reparos. Apenas 20% das cargas circulam pelas ferrovias e 13% pelos rios. "O fato é que o governo deveria controlar os gastos correntes para sobrar dinheiro e aumentar o investimento público. Em vez de comprar clips, o governo deveria construir estradas", resume Padovani.
Fonte: NTC Logística
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