Logística reversa ganha importância

A preocupação com a sustentabilidade e o meio ambiente tem levado as empresas a adotar cada vez mais a prática da logística reversa, seja para recolher os produtos usados e descartá-los adequadamente, seja para reciclá-los, fazendo-os voltar ao ciclo produtivo.
O PNRS (Plano Nacional de Resíduos Sólidos), definido em agosto do ano passado, formalizou um conjunto de práticas que colocou luz sobre o assunto e deve acelerar o processo de conscientização das empresas quanto à urgência da adoção de um novo código de atuação.
O plano privilegia a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e estimula investimentos na produção de artigos recicláveis, que gerem a menor quantidade possível de resíduos sólidos. Além disso, define os tipos de resíduos sólidos, seu tratamento, a responsabilidade dos grandes geradores e os consumidores finais. Especifica, também, o sistema de logística reversa no qual o gerador é responsável pelo destino final de seu produto pós-consumo.
Para o presidente do CLRB (Conselho de Logística Reversa do Brasil), o professor e engenheiro Paulo Roberto Leite, este segmento tende a expandir-se significativamente no Brasil em todas as áreas de atuação e para todas as atividades das cadeias diretas e reversas. “Com o crescimento acentuado de produção para um número cada vez maior de microssegmentos, com produtos cujos ciclos de vida são mais breves e períodos mercadológicos cada vez menores, aumenta também a quantidade de itens que devem retornar.”
Como consequência, dois aspectos ganham vital importância para o crescimento da logística reversa. “Para os produtos ainda não consumidos, é necessário adequar os volumes às necessidades da empresa. Por outro lado, os produtos já consumidos têm forçado as companhias a equacionar os retornos e os destinos desses itens usados”, afirma.
Leite diz que não há números oficiais sobre a quantidade das participantes da operação de logística reversa no Brasil, mas garante que “todas as empresas precisam cuidar do retorno de sua produção, com maior ou menor importância em função do valor agregado, dimensões geométricas, composição e embalagem do produto e dificuldades de coleta/transporte”, destaca Leite.
Segundo ele, organizações com boas práticas em termos de assistência técnica e serviços de pós-venda, por exemplo, preocupam-se muito com a eficiência da logística reversa: “Destaco as iniciativas de algumas companhias de comércio eletrônico”.
Termotécnica – isopor
Uma companhia que identificou os benefícios diretos e indiretos da logística reversa é a Termotécnica, a maior transformadora da América do Sul de EPS – poliestireno expandido, popularmente conhecido como isopor. A empresa passou a negociar com a rede varejista a instalação de pontos de coletas para garantir a reciclagem dos isopores que produz. “Realizamos um trabalho conjunto com os motoristas que fazem o transporte de nossos produtos para orientá-los a trazer de volta para reciclagem as peças de isopor danificadas”, afirma o presidente da empresa, Albano Schmidt.
Na operação de recolher material para reciclagem, a Termotécnica ocupa diariamente mais de 20 caminhões, que fazem a coleta das sobras de isopores pelo Brasil. Em média, a empresa tem reciclado mais de 300 toneladas por mês. Em 2010, o volume de reciclagem chegou a 400 toneladas mensais. “Temos a meta de fazer o volume reciclado atingir 500 toneladas por mês em 2012”, afirma o presidente da empresa.
Além dos poliestirenos expandidos, utilizados para proteção em embalagens, a Termotécnica também estuda uma forma de reciclar os isopores que têm contato com material orgânico, como, por exemplo, as bandejas utilizadas para acondicionar alimentos. “Estamos orientando tanto os funcionários quanto os clientes e conversando com os hipermercados para instalar um ponto de coleta desses produtos. Queremos que esse hábito de devolução das embalagens faça parte do nosso dia a dia, uma vez que as pessoas têm de ajudar no processo de sustentabilidade, para evitar que o produto seja descartado na natureza”, afirma Schmidt.
Aplicação
O poliestireno expandido produzido pela Termotécnica atende aos segmentos de eletrodomésticos, eletroeletrônicos, construção civil, utilidades domésticas, agroindústria, alimentos, bebidas e produtos frágeis, além de apresentar inúmeras outras possibilidades de aplicação. “A operação logística para a entrega deste produto ao cliente requer muita habilidade, pois são peças frágeis que, muitas vezes, têm de chegar em sistema just-in-time à linha de produção das fábricas em várias modalidades”, explica Schmidt. “Por isso, é necessário investir no treinamento dos motoristas, que deverão fazer múltiplas operações de carga e descarga”.
Para entregar os isopores aos clientes, a Termotécnica conta com o serviço de dez empresas transportadoras que utilizam 100 caminhões baús de até 100 metros cúbicos em trajetos diários pelas cidades distantes a 100 km de suas fábricas, localizadas em Joinville (SC), São José dos Pinhais (PR), Sumaré, Indaiatuba e Rio Claro (SP), Goiânia (GO) e Manaus (AM).
Apesar de o transporte de poliestireno expandido não exigir muito esforço dos transportadores – já que cada conjunto de peças não pesa mais de quatro quilos –, a operação requer atenção. “Além do cuidado para não sofrerem quebras, os isopores não podem ser entregues sujos, pois comprometeriam a imagem do produto que será embalado e até mesmo do fabricante”, ressalta Schmidt.
O executivo da Termotécnica afirma que a empresa está conseguindo equilibrar os custos com a reciclagem por intermédio da comercialização de subprodutos. “Não acreditamos que haja redução de custos, pois, à medida que ampliamos o raio de atuação da empresa para localidades fora dos grandes centros, os custos logísticos ficam significativamente maiores”, afirma.
TGestiona – Central de Logística Reversa
A TGestiona, operadora logística do Grupo Telefônica, que em 2008 começou a investir modestamente na logística reversa, com baixos volumes, já começa a colher os frutos dos seus investimentos neste ramo de negócio. De fevereiro a agosto de 2010, recolheu mais de 1 milhão de equipamentos.
Para centralizar as operações logísticas e obter mais sinergia operacional, de modo a garantir a ampliação do leque de serviços e o aumento da receita, a TGestiona criou a Central de Logística Reversa.
Essa unidade gerou para a empresa um ganho de 20% em produtividade, com maior volume de itens coletados, recebidos e, depois de uma criteriosa triagem, retornados ao estoque, onde ficam à disposição do usuário final.
Segundo o diretor de Logística da TGestiona, Marcelo de Sousa, esse tipo de trabalho não traz ganhos exclusivamente financeiros: “Os benefícios são revertidos também para a sociedade, que passa a ser inserida em uma nova cultura de reutilização de equipamentos em prol do meio ambiente”, explica.
“Acredito que as empresas e o governo deverão se unir para buscar soluções logísticas eficientes e menos custosas. Assim, haverá o aumento na conscientização de todos os consumidores sobre os benefícios relacionados a sustentabilidade e responsabilidade social. As empresas que se anteciparem neste processo serão favorecidas, pois irão conquistar este novo segmento de consumidores conscientes”.
Sousa informa que estão surgindo empresas interessadas em aproveitar economicamente cada etapa do processo, como coleta, tratamento, transporte e destinação final. “O crescimento virá pela maior conscientização da população, que exigirá cada vez mais dos fabricantes e comerciantes uma ação efetiva em todo o ciclo de vida dos produtos, inclusive na destinação final dos resíduos. Só então alcançaremos o nível de gerenciamento desta cadeia reversa, como acontece em alguns países da Europa. Acreditamos que isso exigirá mais alguns anos de aprendizado em nosso país. Quem começar antes estará mais preparado para o futuro. Nosso papel como líderes é ajudar neste processo de evolução”, afirma o diretor da TGestiona.
Resultados positivos
Com a utilização da logística reversa, o que as empresas já contabilizaram de resultados positivos? “É difícil imaginar que hoje, devido ao baixo volume, consigamos obter resultados econômicos nas operações de logística reversa”, afirma o diretor de Logística da TGestiona. “As empresas envolvidas no processo (fabricantes, distribuidores, varejistas, operadores logísticos e governos) devem se unir para encontrar processos sinérgicos, que permitam a redução dos custos operacionais e a utilização sustentável, como a reciclagem, por exemplo, gerando receitas adicionais na cadeia produtiva reversa.”
Para o diretor de Logística da TGestiona, não se pode deixar de mencionar as empresas que já lançaram projetos para colaborar com a captura, a estocagem e a destinação de resíduos. “O Banco Santander e o Pão de Açúcar são exemplos de destaque. Em minha opinião, se ainda não contabilizaram resultados econômicos, pelo menos ganham cada vez mais o respeito e a admiração dos consumidores conscientes”, detalha ele.
Processo irreversível
Segundo Sousa, o aumento da escala de coleta e reutilização ajudará a baratear os custos também. “Não dá para precisar quando atingiremos um equilíbrio econômico, pois isso depende de muitas outras variáveis relacionadas a cada negócio ou tipo de material residual. Do ponto de vista ambiental, é evidente que a logística reversa e a reutilização propiciarão a destinação mais ordenada e controlada”.
Segundo o executivo, quanto maior for a produção de resíduos, maior será a exposição da indústria e do varejo às exigências da lei e dos consumidores. “Para todos os segmentos geradores de resíduos será necessário avaliar o melhor formato de coleta, transporte e destinação final. Quanto mais tecnologia propiciar o reprocessamento economicamente viável dos resíduos, mais rapidamente o processo se desenvolverá”, afirma.
O diretor da TGestiona destaca ainda que empresas deverão criar consórcios, formando sinergias operacionais na logística reversa. Todas, porém, terão uma preocupação muito forte com o tema: “Resíduos de ferro, garrafas PET, latas de alumínio, plásticos, baterias, lâmpadas e pilhas são recolhidos cada vez mais. A obsolescência acelerada de equipamentos eletrônicos tem gerado uma preocupação crescente, pois há uma quantidade enorme de resíduos que precisam ser recolhidos de forma melhor e reutilizados”.

http://www.termotecnica.com.br / http://www.tgestiona.com.br

Fonte: Global Online


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