Para cargas, ferrovia é mais eficaz

No entanto, malha precisa melhorar rapidamente...
A baixa oferta de transporte ferroviário no Brasil tem causado impactos negativos para a economia do País, como a inibição da produção nacional e o alto custo da logística.
Foi a essa conclusão que chegou o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) no estudo “Mapeamento Ipea de Obras Ferroviárias”, no qual foram analisadas 141 obras de infraestrutura ferroviária, necessárias para a melhoria da eficiência operacional e da competitividade do setor.
O objetivo do estudo é discutir as características do transporte ferroviário de cargas, a evolução relacionada à infraestrutura de transporte brasileira e as principais questões regulatórias do setor.
Segundo o Ipea, atualmente, a malha ferroviária no Brasil é composta por 12 ferrovias de transporte de carga, o que resulta em um pouco mais de 28 mil quilômetros de extensão. Com a gestão dessa malha dedicada à iniciativa privada, em meados dos anos 90, houve um incremento na produção ferroviária - de 92,7% -, que passou de 138,9 bilhões para 267,7 bilhões de TKU (Toneladas Quilômetro Úteis), entre 1999 e 2008.
No que se refere ao volume transportado, o ganho foi de 79,6%: em 1999, foram movimentadas 256 milhões de TU (Toneladas Úteis), enquanto em 2008, este volume atingiu 459,7 milhões de TU.
Porém, de acordo com o mapeamento do Ipea, no Brasil a demanda por transporte de carga é bastante superior à capacidade das malhas existentes. E como não há disponibilidade de transporte em quantidade e custo suficientes, não se produz o que seria possível.
Para o Ipea, na comparação com o modal rodoviário, a participação das ferrovias na logística brasileira ainda é baixa – menor que 30% da produção total de transporte. Na opinião da instituição, hoje, a ferrovia não é o meio mais adequado para o transporte de produtos de maior valor agregado, como industrializados, por exemplo. No entanto, a ampliação e a adequação da malha resolveriam grande parte dos gargalos.
A concentração das ferrovias no centro-sul do País, e na maior parte com traçado antigo, foi um dos pontos críticos apontados pelo estudo. Conforme relatou Fabiano Mezadre Pompermayer, técnico do Ipea, a malha antiga resulta em falta de eficiência logística; nessas ferrovias a velocidade média é de 40 quilômetros por hora, enquanto na rodovia a média é de 80km a 100km por hora. Segundo ele, “são fatores que resultam da falta de investimentos”.
“Há a necessidade de investimentos para a construção, novas linhas e ampliação e reestruturação da malha, e para isso a demanda é de R$ 30 bilhões de reais”, disse. Mas, segundo Pompermayer, uma série de investimentos estão previstos no PAC (Programa de Aceleração de Crescimento). A grande questão é que, na opinião da entidade, “a ferrovia não tinha prioridade para o governo”. No momento, a atenção para o setor é maior, “mas o PAC deveria ter privilegiado as obras mais prioritárias para serem realizadas em curto-prazo”, diz.
Problemáticas
“Construir ferrovia é muito caro”, observou o técnico. “Para cada quilômetro de ferrovia se gasta de R$ 2 milhões a R$ 5 milhões, enquanto para a rodovia, o custo é de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões por quilômetro”, detalha. “Porém, a ferrovia permite muito mais carga que a rodovia”, acrescenta.
De acordo com o estudo, uma ferrovia singela permite transportar até oito milhões de toneladas por mês, e a rodovia, considerando o transporte por caminhões do tipo bi trem, permite 6,5 milhões de toneladas mensalmente.
Entretanto, para construir uma ferrovia é preciso haver demanda. Conforme relata o estudo, com os fretes rodoviários praticados no País, a ferrovia apenas se torna competitiva a partir de volumes mensais superiores a 350 mil toneladas. Isto ocorre devido ao elevado custo de construção da linha férrea, que precisa ser diluído por um grande volume de carga. “Construir uma ferrovia para transportar 100 mil toneladas por mês é inviável economicamente”, ressalta Pompermayer.
É com relação a isso que ocorre a alta no custo do frete, apontou a análise do Ipea. “Para uma ferrovia ser viável é preciso muita carga e, se existe essa demanda, ela é muito mais eficiente que a rodovia; de contrário o frete passa a custar muito”, explica.
A justificativa é que a ferrovia não é adequada para o transporte de qualquer produto e tampouco o de pessoas e, nesse sentido, há ainda outra questão a existência desta não elimina a necessidade de uma rodovia para atender a uma determinada região. Por isso, a implantação de uma ferrovia apenas é justificada, do ponto de vista social e econômico, se existe uma demanda por transporte de carga, atual ou futura, em volume suficiente para compensar os elevados investimentos na construção da linha.
Saídas
Para o Ipea, é necessário continuar o investimento em ferrovias; porém, propõe também o uso das hidrovias, principalmente em cabotagem para o transporte de grandes volumes. Para Pompermayer, “a multimodalidade é uma saída, é preciso pensar em investimentos em outros modais”, alerta.
Mesmo assim, na opinião do técnico, será necessário destinar recursos também para as rodovias porque um modal complementa o outro. “Não adianta investir em ferrovia, por exemplo, e ao chegar no porto não haver capacidade para suportar a operação da carga transportada até lá”, observa. “Nossa proposta é a ampliação da malha”, finaliza.

Fonte: WebTranspo

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