Dirigíveis: agora, para cargas

Quem sente falta do dirigível que cortava o céu de São Paulo, em seus últimos anos de voo mostrando imagens da cidade nas transmissões de uma emissora de televisão, vai poder matar as saudades se depender dos planos de uma companhia brasileira. A Airship do Brasil, uma empresa em São Carlos, cidade do interior do estado conhecida como polo de boas ideias voltadas para inovação e tecnologia, está desenvolvendo um projeto inédito no mundo: dirigíveis voltados para transporte de cargas.
"Fizemos um protótipo de três metros, que teve seu voo inaugural no último dia 8 de setembro nas dependências de uma das empresas parcerias, em Alphaville, na Grande São Paulo. Agora vamos iniciar a fase de desenvolvimento tecnológico, que se concentra no projeto, na construção e nos ensaios de dirigíveis cada vez maiores, tendo como alvo veículos cargueiros com capacidade inicial de 20 toneladas, mas podendo chegar a 500 toneladas no futuro", afirma Renata Lopes da Silva, administradora da Airship do Brasil. De acordo com ela, o desenvolvimento do primeiro cargueiro de 20 toneladas e 120 metros de comprimento terá início no próximo ano e a previsão é de que entre em operação em um prazo de cinco a dez anos a partir de 2010. "Pode parecer muito, mas é o prazo normal para que se desenvolva um novo projeto de aeronave, por exemplo", afirma Renata. A missão desse modelo será transportar cargas na Região Amazônica e entre essa região e o Sul e Sudeste do País.
Além de produzir os dirigíveis, a Airship será responsável pela operação do uso. Embora não fale em investimentos, a empresa assume que possui outros três sócios: duas empresas do ramo de transporte e outra de engenharia, que também serão os primeiros clientes a utilizar o novo modal. "Inicialmente, vamos prestar serviço para essas empresas", afirma Pedro Garcia, técnico projetista aeronáutico, um dos responsáveis pelo projeto.
Segundo ele, essa modalidade de transporte não irá concorrer com nenhum outro já existente. "Nosso objetivo é fazer o transporte de grandes cargas, não necessariamente em peso, mas em tamanho, de uma ponta a outra, em um único modal, situação que não ocorre atualmente", afirma.
Como exemplo, ele cita uma turbina de hidrelétrica, que leva de 40 a 50 dias desde que sai do interior de São Paulo, onde é fabricada, até chegar na região Norte, onde será instalada, depois de passar por transporte rodoviário e marítimo. "Com o dirigível, esse transporte deverá levar no máximo dois dias desde a saída da fábrica até a hidrelétrica onde será instalado e, tudo utilizando o mesmo modal", garante Garcia. A empresa também não tem estimativas de quando custará o frete para o uso desse tipo de transporte, mas estima que ficará abaixo do valor cobrado no transporte aéreo e acima do rodoviário.

Meio de transporte aéreo desde o século XIX

Os dirigíveis são aeronaves mais leves que o ar, dotadas de hélices propulsoras e que podem ter o voo controlado. Nos primeiros projetos desse meio de transporte aéreo, que surgiram na França na segunda metade do século XIX, as estruturas eram preenchidas por gás hidrogênio, bastante eficiente para fazer o equipamento subir, mas altamente inflamável. O uso do hidrogênio, por sinal, foi responsável pelos mais graves acidentes com dirigíveis já registrados – caso do alemão Hindenburg, que em 1937 explodiu ao pousar em Nova Jersey, nos Estados Unidos, matando 36 pessoas. Nos projetos mais recentes, o hidrogênio foi substituído pelo gás hélio, menos eficiente mas com a vantagem de não ser inflamável. Os dirigíveis já foram usados para transporte de passageiros – por serem muito lentos, no entanto, (voam a cerca de 80 km/h) perderam espaço para os aviões.

Fonte: Diário do Comércio

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