SÃO PAULO - Um contêiner com commodities ou produtos finais demora, em
média, 21 dias para ser liberado, após a chegada ao porto de Santos, são
19 dias a mais que no porto de Roterdã, na Holanda. Mas esse não é o
único problema do principal porto brasileiro. A fila começa antes mesmo
de a carga chegar ao porto: o tempo de espera dos navios para atracação
em Santos foi de 16 horas no ano passado, quase três vezes o tempo que
se gastava em 2003, de 6 horas, enquanto o total de estadia das
embarcações no porto passou de 26 para 35 horas no mesmo período. Os
números fazem parte de um levantamento elaborado pela Maersk, empresa do
grupo de logística A.P. Moller-Maersk, sobre os gargalos logísticos.
Entre as razões para tal aumento, segundo o diretor comercial da
Maersk Line, Mario Veraldo, estão os problemas de burocracia e o acesso
precário ao porto. "O navio precisa ter condições de entrar no porto",
comentou, citando problemas no acesso marítimo, especialmente no
inverno, muito embora a região não enfrente qualquer problema climático
severo, como os observados em países do hemisfério Norte, por exemplo,
que, no entanto, apresentam produtividade superior.
O estudo reportou que Santos possui produtividade quase 40% inferior à
observada no porto chinês de Qingdao, muito embora tenha conseguido
aumentar sua eficiência no ano passado, ante o 2011, registrando na
média 64 movimentos de atracação por hora (bmph), acima do 39
registrados um ano antes.
Veraldo também lembrou do gargalo de acesso terrestre. "Estudo feito
pelo Banco Mundial em 2012 já indicou que o gargalo mais importante em
Santos é o terrestre", disse. O levantamento da Maersk informa que o
custo rodoviário para Santos fica entre 25% e 40% acima do que o custo
para outros grandes portos e aponta que o problema poderia ser resolvido
com soluções intermodais, que chegam a ser 20% mais econômicas.
"É mais barato enviar um contêiner do Brasil para a China do que
transportar carga em um caminhão de Campinas a Santos", disse Veraldo.
"A infraestrutura de mar está acontecendo", acrescentou, lembrando dos
novos terminais da BTP e da Embraport. "Mas todo o fluxo logístico
precisa andar."
Os dados sobre o principal porto do País são apenas um reflexo do que
acontece Brasil afora. "Os investimentos feitos só serviram para manter
o status quo", disse o diretor da Maersk, ao comentar dados da pesquisa
que apontaram que embora o tráfego de contêineres nos portos
brasileiros tenha crescido, o índice de qualidade da infraestrutura
portuária do País se manteve estável.
Entre 2007 e 2011, o movimento de contêineres cresceu cerca de 20%,
conforme apontou o Anuário de Conteinerização Internacional de 2012. No
mesmo período, o indicador de qualidade dos portos brasileiros,
elaborado pelo Banco Mundial, passou de 2,6 para 2,7, em uma escala que
varia de 1 a 7, do "extremamente subdesenvolvido" para "bem desenvolvido
e eficiente pelas normas internacionais".
Veraldo também salientou que embora o Brasil seja a sétima maior
economia global, o movimento nos portos alcançou apenas 8 milhões de
teus (medida equivalente a um contêiner de 20 pés), o que equivale à
carga movimentada em Los Angeles (EUA). Entre os motivos para isso
estariam justamente os gargalos logísticos, que reduzem a
competitividade dos produtos brasileiros.
Segundo o diretor, a expectativa inicial da Maersk, divulgada em
novembro passado, era de que o movimento de contêineres crescesse entre
8% e 9% neste ano, mas até agora o movimento aumentou apenas 4% e as
projeções estão sendo revistas.
Fonte: Economia.Estadão
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