Posted: 16 Jun 2013 02:10 PM PDT
Planta da Umicore na Bélgica |
O Brasil tem avançado na área de reciclagem de eletroeletrônicos, mas
uma parte dos materiais ainda não pode ser recuperada no País: as placas
de circuito. Placas mãe e placas de vídeo, no caso dos computadores,
assim como os componentes que controlam televisões, monitores e
impressoras têm uma série de metais em sua estrutura, e a reciclagem
desses itens exige, pois, a separação de cada um, para posterior
reaproveitamento.
Há ao menos 17 metais nessas placas, entre pesados, preciosos e de base.
Alguns deles até têm tecnologia no país para reciclagem, mas quando
todos estão juntos, a recuperação só é feita por cinco empresas no
mundo. Uma delas é a Umicore, com sede na Bélgica, que processa 350 mil
toneladas de materiais por ano.
As placas brasileiras provêm, principalmente, de equipamentos de
informática - computadores, periféricos e acessórios -, e o restante vem
de celulares, televisões e sistemas de áudio. São Paulo é o que mais
envia sucata eletrônica, mas isso porque, segundo o gerente de
desenvolvimento de negócios da Umicore no Brasil, as maiores empresas
estão no estado - as menores, por não terem condições de fazer a
exportação por si, acabam enviando materiais para a região sudeste, para
que sejam destinados à Europa.
Processo de separação
Segundo o gerente de desenvolvimento de negócios da Umicore no Brasil,
Ricardo Rodrigues, o processo de reciclagem começa com a etapa de
amostragem. O material recebido é triturado, formando uma mistura
homogênea, de onde se retira uma amostra. No laboratório, são
identificados os metais contidos no lote de lixo eletrônico, o que
determina quanto as empresas que entregaram a sucata vão receber pelo
material. Além disso, os números servem para saber a quantidade de
recursos naturais que se está economizando, ao recuperar o que já foi
extraído e colocar os componentes de volta no ciclo de produção.
Então vem a etapa de refino, ou seja, de separação de cada um dos
metais. O primeiro passo é fazer lotes maiores, o que significa juntar a
massa homogênea de placas de circuito, por exemplo, com outros tipos de
lixo, não necessariamente eletrônico, que também têm metais em sua
composição: subprodutos de processos químicos, catalizadores automotivos
e resíduos da indústria petroquímica, por exemplo.
Esses lotes maiores passam então por três linhas de processo, onde há os
chamados metais coletores. Eles recebem esse nome porque funcionam como
espécies de imãs, atraindo outros metais. O cobre, por exemplo, atrai
ouro, paládio e selênio, entre outros, então nesta etapa do processo
esses metais vão formar uma liga. O que "sobrou" segue para a próxima
linha, de chumbo, em que metais como prata, estanho e bismuto vão formar
outra liga. E da mesma forma, o restante do material vai para a
terceira linha, onde o níquel vai atrair platina e ródio, por exemplo.
A fase seguinte ocorre em três diferentes espaços, onde cada uma das
três ligas formadas vai ser separada. Cada material tem características
químicas que o diferem dos outros, o que possibilita que eles sejam, um a
um, destacados do restante da liga.
O que difere a tecnologia da Umicore de outras presentes no mundo é
justamente a unificação das três linhas, com os três metais coletores,
na mesma planta de reciclagem, explica Rodrigues. "Se você tivesse o
cobre, por exemplo, como principal coletor, seria possível recuperar
alguns metais, mas os outros não", detalha.
Ao final do processo de reciclagem, os metais estão como novos, e podem
ser usados pelas mesmas indústrias que utilizam o material
recém-extraído. Rodrigues destaca que, com isso, economiza-se a natureza
de quatro formas diferentes, entre elas evitando que novos materiais
sejam retirados da natureza, e impedindo que metais pesados sejam
jogados em aterros sanitários sem tratamento e acabem contaminando o
meio ambiente.
A indústria de reciclagem tem também uma preocupação com a sua própria
emissão de poluentes. Os materiais que serão reciclados são sempre
analisados previamente, segundo Rodrigues. "Conhecemos as empresas que
vão fornecer o material para reciclagem, e avaliamos o que é necessário
para recuperar o material, e se isso não oferece risco também às pessoas
que vão trabalhar no processo", explica.
Além disso, as partes que não recicláveis acabam usadas em outros
processos. O plástico contido nas placas de circuito, por exemplo, é
queimado para gerar energia para outras etapas da reciclagem. Tudo,
afirma Rodrigues, com controle de emissões de gases e de poluentes. Em
outra frente, a planta tem sistema de recolhimento de água da chuva e
lavagem dos solos, que passa por tratamento e é usada novamente para
molhar as pilhas de materiais e resfriar o maquinário da unidade. O
processo é certificado por órgãos ambientais europeus.
Depois da reciclagem
Os materiais reciclados em alguns casos voltam para suas indústrias de
origem. É o que em geral acontece com platina, paládio e ródio, por
exemplo, reciclados de catalizadores e que depois podem ser usados para a
fabricação de novos catalizadores. Os produtos utilizaados em baterias
também são reaproveitados pela mesma indústria.
No caso da Umicore, que possui, além das usinas de reaproveitamento,
indústrias de baterias, catalisadores e materiais de construção, uma
parte do material é consumida pela própria empresa. Quando há excedente,
ou quando o produto fruto da reciclagem não faz parte da cadeia
produtiva da empresa, os materiais são vendidos para outras indústrias.
Os setores de eletroeletrônica, de pigmentos, de fertilizantes e de
automotores são os principais clientes da Umicore. Fabricantes de
bateria também compram os componentes reciclados.
Quanto aos preços, Rodrigues explica que metais preciosos são cotados
pela bolsa, então o valor dos materiais recém-extraídos ou reciclados é o
mesmo. Os custos do processo são pagos em parte pelas empresas que
recolhem o material e em parte pelas que reciclam. "A companhia paga
para a Umicore reciclar, mas depois de ver quanto vale o material, ela
recebe o valor descontado o custo", simplifica. Se, por exemplo, a
manufatura reversa custou R$ 20 mil, e os produtos finais valem R$ 100
mil, a empresa que recolheu o material recebe R$ 80 mil.
Por: Déborah Salves
Fonte: Tecnologia Terra
Via Blog Logística Reversa e Sustentabilidade
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