Escrito por Samir Keedi
Temos,
ao longo do tempo, escrito bastante sobre acordos comerciais com outros
países, ressaltando que o Brasil é avesso a eles. Prova disso é termos
tão poucos acordos comerciais, apenas no âmbito da Aladi, e dois fora
dela, com Israel e Índia.
Assim mesmo, nem todos têm
abrangência geral. O três acordos com o México e os dois fora da Aladi
não abrangem a totalidade das mercadorias. Como se pode fazer comércio
exterior assim?
Nossos vizinhos, Chile e México, têm cada um cerca de 50 acordos
comerciais com os mais variados países e continentes. Nós, além de não
fazermos acordos, ainda rejeitamos alguns ótimos para o País, como foi o
caso da Alca (Associação de Livre Comércio das Américas), que teria 35
países, incluindo os Eestados Unidos, caso Cuba entrasse. Sem Cuba,
seriam 34 países. Um acordão... e nele teríamos a maior economia do
mundo, ou cinco vezes o tamanho da economia brasileira. Isso é o Brasil,
eternamente jogando no lixo as oportunidades!
Muitas coisas justificam
isto. A carga tributária, a maior do mundo em termos absolutos e
relativos. A taxa de juros, maior do mundo também. O investimento,
irrisório, dos menores do planeta.
A
falta de acordos comerciais também é um grave problema. Sem eles, as
mercadorias entram mais caras nos países. Aqui, estamos sempre indo para
trás e para baixo.
Agora, nas últimas semanas, temos sido bombardeados com a informação de que as
duas
maiores economias do mundo, EUA e União Europeia, estão costurando um
acordo de livre comércio. Está certo que as tarifas deles são baixas e
este acordo não terá efeito muito grande. Mas não é isso que interessa.
Haverá um efeito, ainda que relativo, e terá o simbolismo por trás. Ou
seja, há um acordo comercial entre eles. Muitas vendas brasileiras podem
ser perdidas, tanto para um quanto para outro.
O
maior simbolismo disso é que será o maior do mundo, com PIB regional de
cerca de 30 trilhões de dólares. Ou cerca de 40% do PIB mundial, de
cerca de 75 trilhões de dólares. Para dar uma ideia da discrepância, o
PIB brasileiro é de 2,2 trilhões de dólares, apenas cerca de 7% do novo
bloco comercial.
Ninguém precisa ficar estressado para entender porque não crescemos. Essa é a resposta mais fácil que existe.
E,
entre os vários e diversos motivos, temos o dos acordos comerciais. O
que explica a falta de apetite do governo de plantão para com eles?
A
cada dia nos convencemos de que este governo não tem interesse no
desenvolvimento do País, mas apenas na política de assistências sociais.
Os motivos não precisam ser esmiuçados. O fato é que o buraco em que
estamos nos metendo é irreversível.
Assim,
é necessário que tomemos ações rápidas. E efetivas. A sociedade precisa
pressionar o governo para isso – em especial as associações comerciais,
as federações industriais, etc. É do interesse delas a prática do
capitalismo. Afinal, somos capitalistas.
E
os acordos comerciais têm de entrar em pauta. Todos os países estão
hoje envolvidos, sejam capitalistas, socialistas, socialistas
capitalistas etc. O que interessa é o comércio, que é a melhor forma de
um país se desenvolver. Os mais envolvidos com comércio exterior são os
que mais crescem, sendo a China é o exemplo mais bem acabado disso.
Em
1979, se não nos falha a velha memória, o Brasil exportava 12,7 bilhões
de dólares. A China exportava 9,7 bilhões. Passados 33 anos, nós
exportamos em 2011 – os números estão devidamente fechados – 256 bilhões
de dólares e a China, 1,9 trilhão. Nosso crescimento econômico médio
foi de 2,5%. O da China, 9,9%.
Precisamos agora partir para o que faz o mundo: comércio. Isso antes que o País fique mais atrás ainda das economias mundiais.
O crescimento de 2012 está na rabeira mundial, considerando-se os países que importam.
Acordos comerciais e ressurreição da Alca já, para ontem!
Samir
Keedi é bacharel em economia, consultor e professor da Aduaneiras e de
várias universidades, autor de vários livros em comércio exterior. samir@aduaneiras.com.br
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