Em março de 2011, quando era diretora de Gás e Energia da Petrobras, Graça Foster deu um aviso às distribuidoras de gás natural. Com sua conhecida franqueza, a atual presidente da companhia informou às concessionárias estaduais que a estatal não investiria mais nem um centavo na exploração desse combustível – a não ser nos casos em que ele vem associado ao petróleo – e tampouco construiria mais um centímetro sequer de gasodutos.
“Foi uma declaração dura, mas honesta. Ficou claro que caberá às distribuidoras e outros players buscar suprimento e transporte, e que não adianta mais pedir socorro à Petrobras”, conta o presidente da Compagas, Luciano Pizzatto, que participou daquela reunião. Logo a companhia, responsável pela distribuição do gás canalizado no Paraná, deu início a uma intensa busca por novas fontes de combustível, capazes de complementar os volumes trazidos pelo ramal Sul do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). Quase saturado, em pouco tempo ele não dará conta de atender à demanda de indústrias que planejam se instalar no Paraná – que, sem garantia de abastecimento, fatalmente vão procurar outros estados.
Quase um ano e meio depois do recado de Graça Foster, a Compagas ainda estuda suas possibilidades. Uma delas é passar a explorar e produzir ela mesma o gás natural, o que exige arrematar campos no Paraná que o governo federal venha a leiloar nos próximos anos. Mas as alternativas mais prováveis são dois gasodutos: um de Penápolis (SP) a Londrina, que “puxaria” gás boliviano antes de sua chegada à capital paulista; e outro de Paranaguá a Araucária, que traria para a região de Curitiba gás natural importado, desembarcado no Litoral.
O duto Penápolis-Londrina tem um inconveniente: por envolver dois estados, tem de ser obrigatoriamente licitado pelo governo federal. Ou seja, não depende só da Compagas, muito embora ela trabalhe para convencer o Ministério de Minas e Energia a encampar a ideia.
O projeto mais avançado é o do gasoduto da Serra do Mar, estimado em R$ 210 milhões. Segundo Pizzatto, a Compagas está preparando o estudo de impacto ambiental e espera pedir licenciamento ao Instituto Ambiental do Paraná dentro de seis meses. A intenção é que a estrutura corra em paralelo a um alcoolduto que ligaria o Norte do Paraná ao Litoral e que já foi alvo de um estudo de viabilidade bancado por Compagas, Copel e Alcopar, associação que reúne os usineiros do estado.
A expectativa do presidente da Compagas é obter a licença ambiental em um ano e construir o gasoduto em dois ou três. Esse prazo, diz Pizzatto, será suficiente para adaptar um dos terminais de líquidos existentes em Paranaguá, preparando-o para armazenar o gás natural liquefeito (GNL) que chegar de navio. Para isso, a Compagas terá de fechar parceria com alguma das empresas que operam no porto.
Caso contrário, será preciso construir um terminal. A obra, que custaria perto de R$ 400 milhões, poderia ser bancada pela Compagas, por uma parceria público-privada (PPP) ou pelo próprio fornecedor do GNL – empresas como a russa Gazprom e a angolana Sonangol figuram entre as possíveis supridoras.
Além da questão do armazenamento, há de se definir quem vai converter o GNL em gás. A melhor opção parece ser alugar um navio próprio para isso, já que uma planta de regaseificação não sairia por menos de R$ 400 milhões.
Oferta chegará ao limite em 2014
Sem contar o consumo da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) e a demanda eventual da termelétrica UEG Araucária, a Compagas distribui hoje cerca de 1,1 milhão de metros cúbicos de gás natural por dia. O volume subirá para 1,95 milhão de metros cúbicos até 2014, em razão de novos contratos de fornecimento em negociação ou já fechados – um deles prevê a entrega de 550 mil metros cúbicos à Vale Fertilizantes a partir do ano que vem.
Perto do fim
O problema é que, à exceção desses volumes, a Compagas não tem mais combustível para oferecer a grandes indústrias. Em dois anos o ramal Sul do Gasbol, que também abastece Santa Catarina e Rio Grande do Sul, deve chegar ao limite de sua capacidade de transporte.
Segundo estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ao longo dos próximos dez anos a demanda paranaense por gás natural pode ter um acréscimo de 10 milhões de metros cúbicos. “É como se precisássemos de mais cinco Compagas”, ilustra o presidente da companhia, Luciano Pizzatto, usando como referência o volume que a empresa vai distribuir em 2014.
Muitas das indústrias que sondam o governo do estado em busca de um local para se instalar dependem de gás natural. Daí a urgência em encontrar novas fontes de suprimento. A própria Vale Fertilizantes precisará de mais 550 mil metros cúbicos diários daqui a dois anos, volumes que a Compagas, por enquanto, não tem como garantir.
A busca por alternativas, diz Pizzatto, tem todo o apoio do governo estadual. Controlador indireto da Compagas por meio da Copel, que detém 51% das ações da empresa, o Palácio Iguaçu sabe que, sem gás, será difícil continuar atraindo grandes indústrias. “A situação é crítica, é problemática. Mas também é uma grande oportunidade. A forte demanda das empresas por gás natural indica que haverá mercado para o combustível, o que justifica os investimentos”, explica o executivo.
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