Escoamento comprometido

Apesar de o Brasil ter voltado a investir em infraestrutura de transportes na última década, é ainda preciso aplicar pelo menos R$ 405 bilhões para superar gargalos históricos.
A demanda por aeroportos, ferrovias e hidrovias ficou evidente com a aceleração de exportações e da economia doméstica e já se traduz em aumento de custos. Para analistas ouvidos pelo Correio, algumas áreas dão sinais claros de estrangulamento.
Alguns exemplos são o maior porto graneleiro da América Latina e segundo maior do país, o Paranaguá (PR), fechado por excesso de movimentação em plena entressafra, os caminhões de soja atolados em estradas de terra do Mato Grosso, e os aeroportos industriais que não saem do papel há anos.
Para Hugo Braga, professor da Fundação João Pinheiro (FJP), as falhas logísticas tiram mais a competitividade dos produtos brasileiros do que o real valorizado. “As deficiências estruturais para escoar a produção são piores do que o câmbio desfavorável, pois podem tirar mercados do país permanentemente”, explica.
Segundo Braga, o gargalo implica, na média, em custo extra de 15% para exportadores brasileiros se comparado com competidores internacionais.
Ao fato de 88% das rodovias não serem pavimentadas, soma-se uma frota com idade média de 21 anos. Para piorar, 61,1% dos volumes produzidos no território nacional são movimentados por caminhões. “Nenhum outro grande mercado do mundo transporta sobre pneus volumes expressivos de grãos por longas distâncias”, sublinha.
Lentidão
Em outros modais de transporte o problema se repete. A maioria dos portos tem profundidade média de 12 metros, o que impede receber grandes navios. “Enquanto no exterior o tempo máximo para descarregar é de três dias, aqui chega a 21”, ilustra Braga.
No caso das ferrovias, enquanto o Brasil tem 29 mil quilômetros de trilhos, a China implantou 27 mil só no ano passado.
Flávio Benatti, presidente da Associação Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (NTC&Logística), ressalta a urgência dos investimentos, pois os custos logísticos inviabilizam negócios, sobretudo com produtos de menor valor. “A integração, expansão e aperfeiçoamento dos meios de transporte são necessidades, conforme revelam os 748 projetos prioritários listados pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes)”, afirma.
Na avaliação de Benatti, os governos não conseguirão resolver tudo sozinhos, tendo de abrir espaços à participação da iniciativa privada, via concessões, parcerias público-privadas (PPP) e outras formas. “A presidente (Dilma Rousseff) já sinalizou essa possibilidade, começando por aeroportos”, disse.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os custos de logística no Brasil correspondem a 20% do Produto Interno Bruto (PIB), o dobro do percentual gasto nos Estados Unidos.
Em outros países da América Latina, como México e Chile, ele não passa de 18%. “Isso revela que existe um espaço grande para acertarmos a competitividade global via aumento dos investimentos”, afirma o presidente da entidade, Robson Andrade.

Fonte: Intelog e ANTF

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