O RFID vai para as ruas

Como as etiquetas inteligentes estão se infiltrando em depósitos, carros e até garrafas de vinho[...]
A partir de maio de 2008, quem comprar um carro zero no Brasil vai receber uma placa eletrônica junto com os documentos do licenciamento. Equipada com chip e antena RFID, essa placa — fixada no pára-brisa dianteiro — funcionará como a identidade digital do veículo. Nas ruas, antenas leitoras registrarão sua passagem, ao captar as informações gravadas no chip — basicamente, o número da placa, do chassi e o código Renavam. Se o carro for roubado ou estiver em situação irregular, o alerta chegará automaticamente aos fiscais de trânsito.
O Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos (SINIAV) é um dos exemplos de como as etiquetas inteligentes estão se infiltrando no dia-a-dia das pessoas. Em três anos em meio, o projeto deverá colocar o RFID nas ruas e nas frotas de veículos, tanto novos como usados, de todas as cidades brasileiras. Antes restritas principalmente às fábricas e centros de distribuição, as etiquetas inteligentes, ou tags, vão ganhando novas aplicações em hospitais, aeroportos, lojas de departamento e até em supermercados. De acordo com a empresa de pesquisas ABI Research, 59% do mercado global de RFID atualmente está concentrado em aplicações mais maduras, em quatro áreas básicas: controle de acesso, identificação de animais, automotiva e cobrança automática de pedágios.

Casas Bahia: no centro de distribuição, etiquetas RFID ajudam a controlar os produtos.

Segundo a empresa, em cinco anos essa participação deverá cair para 45%, porque outras aplicações estão crescendo rapidamente. As principais estão nas áreas de segurança — por exemplo, com os passaportes e documentos de identidade eletrônicos —, de gerenciamento da cadeia de fornecedores, de pagamentos com cartões sem contato e de controle de ativos.
A redução no preço das tags tem contribuído para a intensificação do uso do RFID. De acordo com a EPCglobal, entidade responsável pela implantação do Código Eletrônico de Produto (que se baseia nas etiquetas inteligentes), cerca de 700 empresas já estão usando RFID no mundo, só com esse padrão. O custo da etiqueta no mercado internacional está em torno de 15 centavos de dólar. "Houve uma queda de 50% no preço, em relação ao ano passado", afirma Roberto Matsubayashi, gerente de soluções de negócios da GS1 Brasil, que é ligada à EPCglobal.
Por outro lado, é preciso levar em conta que a tecnologia RFID também exige investimentos em infra-estrutura — ao menos em antenas leitoras, que ativam as etiquetas e captam as informações gravadas no chip, e no middleware, software que traduz e consolida os dados recebidos dos leitores antes de enviá-los para os sistemas corporativos. "Além disso, o ideal é que toda a cadeia de fornecedores esteja integrada ao sistema, para que ele seja mais eficiente", diz Carlos Levenstein, country manager da Zebra Technologies no Brasil.
Eletrodomésticos chipados
Para Frederico Wanderley, CIO da Casas Bahia, o importante é o custo-benefício da tecnologia. "Não se deve pensar no valor da etiqueta, mas nas melhorias que o RFID pode trazer para os processos", afirma. Entre elas, Wanderley menciona a agilidade na identificação dos produtos e a diminuição das margens de erros. "Isso já paga o investimento", diz.
Wanderley começou a estudar a tecnologia RFID há três anos. Hoje, a Casas Bahia tem um piloto no seu centro de distribuição em Jundiaí, no interior de São Paulo, que é um dos maiores do mundo — são 300 mil metros quadrados de área. Lá estão instalados 17 portais equipados com leitores e antenas RFID, por onde passam as caixas de mercadorias com as tags. A antena capta — a até três metros de distância — as informações gravadas nos chips dessas etiquetas, que passam pelo middleware da Global Ranger e vão para o sistema de gestão da empresa. No ERP, fica registrada a quantidade de unidades de cada produto que entrou — ou saiu — no centro de distribuição e também em qual prateleira ele foi colocado, para facilitar sua localização.
A experiência ainda está restrita a eletrodomésticos de linha branca, mas, a partir de outubro, deve incluir os móveis Bartira, produzidos pela Casas Bahia — que já vão sair da fábrica com as etiquetas inteligentes. Segundo Wanderley, o objetivo é acompanhar o produto desde que ele entra no centro de distribuição até a casa do cliente. "Mesmo depois da entrega, a etiqueta RFID pode ficar em stand-by, para ser reativada quando for preciso, por exemplo, no caso de uso da garantia", afirma.
O inventário de bens é outra aplicação de retaguarda em que o RFID vem fazendo sucesso. O Banco do Brasil está implantando uma solução desse tipo na área de TI, que tem o ambiente mais complexo em termos de controle de ativos. "São dez mil elementos, como micros, servidores, storage, roteadores, racks e até placas de rede", afirma José Francisco Alvarez Raya, gerente-geral de TI do banco. "Eles precisam ser conferidos um a um, porque é comum a troca ou movimentação de equipamentos."
Realizado manualmente, esse trabalho levava dois meses e ocupava de três a quatro funcionários. Com as etiquetas inteligentes, que estão sendo afixadas em cada placa, computador ou outro equipamento, o inventário será automático — e instantâneo. Quatro antenas leitoras RFID, instaladas nos acessos ao CPD, captam as informações gravadas no chip (basicamente o código de identificação do bem) e enviam para dois servidores dedicados a essa aplicação — que está sendo integrada ao sistema de inventário do banco. "Assim teremos registrado tudo sobre o equipamento: se foi para manutenção, quanto tempo ficou fora e quando voltou", explica Raya.
No Bradesco, a intenção é usar o RFID em cartões sem contato, para facilitar o pagamento de compras de pequeno valor, como lanches ou ingressos de cinema. "Para as transações de valor mais alto, a tecnologia RFID ainda é precária", diz Laércio Albino Cezar, vice-presidente do banco. "Mas nos micropagamentos, a pessoa vai poder usar o cartão sem digitar a senha."
Por enquanto, o Bradesco está avaliando essa aplicação em laboratório, em parceria com a Visa, dona de uma rede de terminais POS espalhada por todo o país. A freqüência utilizada é de 13,56 MHz — o que permite a leitura do chip RFID pelas antenas a uma distância média de 5 centímetros. Cezar diz que o objetivo é acrescentar essa nova função aos cartões Bradesco, que terão de incorporar a antena RFID. Já os terminais da Visa serão adaptados para poder ler as informações do chip a distância.
Vinhos com etiqueta
O Pão de Açúcar, por sua vez, incluiu as etiquetas inteligentes na vitrine de tecnologias exibidas no supermercado high tech que inaugurou recentemente no Shopping Iguatemi, em São Paulo. Em sua adega, todas as garrafas de vinho — de 365 tipos diferentes — são identificadas por tags. Para saber o preço e outras informações sobre o vinho escolhido — produtor, tipo de uva, região de origem e pratos com os quais combina —, o cliente só precisa aproximar a garrafa, mesmo no carrinho, do leitor RFID instalado no quiosque da seção. A antena do leitor capta o código de identificação do produto gravado no chip da etiqueta e envia, via rede Wi-Fi, para o servidor da loja onde roda o banco de dados SQL Server. As informações sobre o vinho são exibidas, então, na tela touchscreen do quiosque.
Aplicações no varejo, no entanto, ainda são raras, porque dependem da identificação de cada produto com a etiqueta RFID. E o ideal é que isso seja feito pelos fabricantes. Lá fora, muitos deles já estão colocando essas etiquetas em diversos produtos, para atender às exigências feitas por grandes redes varejistas —em especial, o Wal-Mart, nos Estados Unidos, e os supermercados do grupo Metro, na Alemanha. No Brasil, o próprio Pão de Açúcar resolveu testar, em sua nova loja, como seriam as compras num supermercado do futuro. Para isso, equipou alguns carrinhos com etiquetas inteligentes e com uma espécie de PDA, que vai registrando — e somando — os produtos adquiridos pelo cliente. Ao chegar no caixa, o leitor RFID identifica o carrinho e o terminal busca no banco de dados as informações sobre a compra (enviadas pelo PDA via rede sem fio), emitindo a nota automaticamente. O problema é que, como a maioria dos produtos não tem a tag, um funcionário da loja precisa acompanhar o cliente, para passar o scanner sobre o código de barras. Mas essa não foi a primeira experiência do Pão de Açúcar com o RFID: em 2005 fez um piloto no centro de distribuição, em parceria com a Procter & Gamble e a Gillette.
Multa instantânea
A identificação e o rastreamento de objetos e animais são outras aplicações do RFID que vêm crescendo no país. Os Correios pretendem iniciar um piloto em 2008, envolvendo o uso dessa tecnologia no rastreamento de malotes — a empresa tem 300 mil malotes contratados, dos quais 90 mil, em média, circulam diariamente por seus sistemas de triagem automatizada.
Com o SINIAV, o rastreamento chegará aos veículos. Muitos deles já usam o RFID para pagar eletronicamente pedágios e estacionamentos pelo sistema Sem Parar. Agora, todos terão a identificação gravada no chip da nova placa eletrônica. "O rastreamento vai permitir gerenciar melhor o trânsito e fornecer informações mais precisas à população", afirma Aquiles Pisanelli, assessor da diretoria de operações da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), de São Paulo.
A cidade já teve uma experiência piloto, que durou quase dois anos. Foi encerrada em junho passado e envolveu 500 carros, ônibus e táxis. Para captar as informações dos chips RFID instalados nesses veículos, a CET instalou 24 antenas no quadrilátero formado pelas avenidas Rebouças, 9 de Julho, Paulista e Faria Lima. A freqüência utilizada foi de 5,8 GHz (a mesma do Sem Parar). Segundo Pisanelli, o sistema permitiu, por exemplo, estabelecer a velocidade média dos carros, com base no tempo gasto para ir de uma antena a outra. O dinheiro para a instalação dos leitores RFID em toda a cidade, no entanto, deverá vir de outra aplicação dessa tecnologia: a identificação dos veículos em situação irregular. Em São Paulo, estima-se que 30% dos veículos não pagam tributos, como IPVA, multas e licenciamento.
No caso dos animais, o principal objetivo do uso do RFID é a identificação. Para entrar num país da União Européia, qualquer animal precisa ter um microchip desse tipo implantado por uma clínica com certificação ISO (porque o chip deve ser compatível com os diferentes leitores do mercado). A Bicho de Casa, de Porto Alegre, é uma delas. "Hoje, colocamos em média seis microchips por semana, principalmente em cães e gatos", diz a veterinária Ivana Fatur, dona da Bicho de Casa. A implantação é feita na própria clínica, por meio de um aplicador (semelhante a uma seringa). Apesar de ter como finalidade a identificação, o chip pode guardar outras informações sobre o animal, como as vacinas que tomou, o histórico de doenças e cirurgias. "Cuidei de animais que hoje moram em outros países, mas o veterinário acessa essas informações pelo microchip", afirma Ivana.

Fonte: Info Online

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